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Ano lectivo 2018 arranca sem aulas

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Jornal de Angola 

Sozinha. Na sala 10 do Complexo Escolar 8052, Aida Machado aguarda com paciência pela chegada dos alunos. O ano lectivo arrancou ontem em todo o país. As carteiras estão vazias. O silêncio é absoluto. Antes das 8h00, a professora do ensino primário chega à escola da Vila Estoril, no Kilamba Kiaxi.

Com mais de 30 anos ao serviço da Educação, o dia 2 de Fevereiro pode ficar gravado na memória da professora que já conta pelos dedos a hora da reforma. Aida Machado está ansiosa para reencontrar antigos alunos e conhecer os novos.

Aguarda a hora de saída, às 12h00, passa a limpo uma pauta do ano anterior, para corrigir um erro no nome de uma aluna que estudou ali a 5.ª classe, no ano passado. “Este ano o nível de absentismo é pior. Mas devemos compreender que, para além de ser o primeiro dia de aulas, hoje (ontem) é o último dia da semana e próxima segunda-feira é tolerância de ponto”, referiu a professora. 

Com 14 salas de aulas, na escola onde a Aida Machado lecciona, a maioria dos professores, estão sentados no átrio e na secretaria, esperam pelos alunos que demoram uma eternidade a chegar. Alguns rapazes e meninas matriculados na instituição chegam de calções, chinelos, blusas de alça e de camisolas escavadas, mas apenas para confirmar os nomes nas listas afixadas naquele estabelecimento escolar.

Ontem, nas ruas de Luanda, não se viram crianças e adolescentes a deambularem com batas escolares. No Distrito Urbano da Samba, município de Luanda, os professores apareceram em peso na Escola do Ensino Primário e do I Ciclo do Ensino Secundário n.º 1009, onde a maioria das 14 salas que a compõem estão sem carteiras. 

Com um total de 3.170 alunos matriculados, destes 2.700 vão frequentar o ensino primário. A escola funciona com 53 professores, sendo que 28 passam a trabalhar este ano no período diurno e 26 no nocturno. 

Matriculada na 9.ª classe, Evandira Pereira, que traja um vestido branco floreado  e calça chinelas havaianas, confirma o nome nas listas. “Vim esta manhã à escola para confirmar a minha turma. Mas já sabia que vou estudar à noite na sala 17. Não sei se volto mais tarde. Nesse período não há aulas, será que logo haverá?”, questionou a jovem de 18 anos.

Meuri Pegado entra na secretaria da escola com o rosto carregado. Não viu o nome do seu irmão, António Pegado Caetano, de 12 anos de idade, em nenhuma das listas da 4.ª classe, afixadas logo à entrada da escola. 

Para não ficarem de braços cruzados, numa sala de trabalhos, as professoras organizam  materiais didácticos para os alunos da 1.ª classe. “As aulas deveriam começar às 8h00. São agora 10h47 e não aparece nenhum aluno. Mas vamos ficar mesmo aqui até chegar a nossa hora de sair”, disse a professora Nzinga Hola.

“Já estamos habituadas a isso”, acrescentou a professora Maria Muabi, afirmando  que todos os anos acontece a mesma coisa no primeiro dia de aulas. “Os professores aparecem sempre. Os alunos é que não”, concluiu.

Apenas duas meninas da 7.ª classe apareceram na Escola do I Ciclo do Ensino Secundário n.º 1182 da Terra Nova, no município do Rangel. “Coincidentemente, essas duas únicas meninas que apareceram aqui hoje calharam na mesma turma, na sala três. Será o primeiro ano delas nesta escola”, explicou a directora Manuela Gourgel.  

Na escola do Rangel, muitas carteiras estão partidas ou sem os respectivos tampos, daí ter sido retiradas das turmas. Em cada sala de aulas estão apenas 25 secretárias disponíveis para acomodar alunos. 

“Se colocarmos mais alunos em cada sala, como é que vão escrever?” questionou a responsável, para acrescentar que o número de carteiras não dá para colocar mais de 25 alunos por turma.  

Com um total de 1.105 alunos matriculados, da 7.ª a 9.ª classe, a Escola do I Ciclo do Ensino Secundário n.º 1182 da Terra Nova conta com 82 professores.

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