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Ano de presidência de João Lourenço da União Africana pode ser “duro” para Kagame

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Poucas pessoas hoje duvidam que o Ruanda tem as suas Forças Armadas na RDC a lutar ao lado do grupo rebelde M23 contra o Governo legítimo. A ONU fez essa advertência por mais de uma vez, a África do Sul deu mostras de que tem ciência da existência de militares de Kigali em Kinshasa ao ter exigido a sua retirada e proferido advertências directas, depois da morte de alguns operativos seus, destacados no Congo para apoiar o Governo. Já Angola, que na qualidade de medianeiro do conflito entre a RDC e o referido grupo rebelde procurava não citar o Ruanda como estando a apoiar os rebeldes, já não pode esconder o que sabia, tendo mesmo exigido ao Ruanda para que retirasse as suas mãos do país vizinho, em Janeiro deste ano, após o M23 ter tomado Goma.

João Lourenço, o Presidente angolano que se tem revelado incomplacente para com tomadores do poder por via de golpes de Estado, agora nas vestes de Presidente da União Africana, deixou explícito no seu discurso de passagem de pasta presidenciais da maior tribuna política do continente, que não pretende olhar para o lado a países e grupos que venham a promover acções de desestabilização de África.

O líder do Movimento 23 Março (M23), grupo apoiado pelo Ruanda, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) e Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), tendo em conta os seus relatórios e comunicados, chegou a ameaçar Angola, sublinhando que mandaria para Luanda os “caixões” de soldados angolanos que eventualmente fossem ou venham a ser enviados para a República Democrática do Congo (RDC) em apoio ao Governo de Félix Tchissekedi, sediado em Kinshasa, a capital do país.

Para diferentes observadores, embora Paul Kagame, presidente do Ruanda, nunca tenha proferido ameaças a Angola, a advertência de Corneille Nangaa pode servir de “mola impulsionadora” para várias interpretações sobre a visão de Kagame em relação a Angola, tendo em vista o seu alegado papel de influência sobre o movimento.

Porém, independentemente de como estão as relações entre Kigali e Luanda, o que parece ser facto é que 2025, ano da presidência de João Lourenço na União Africana, poderá ser complexo para determinados actores, entre os quais Paul Kagame, a quem é atribuída a responsabilidade dos avanços do M23 sobre as cidades congolesas, actos que são seguidos por destruição, deslocamento de populares e outros males.

Na sua intervenção nessa quarta-feira, 12, durante a cerimónia de passagem de pastas entre a presidência cessante e a nova presidência da Comissão da União Africana, João Lourenço, na qualidade de Presidente da organização, sublinhou que os líderes africanos deviam envergonhar-se com o facto de “instituições externas à África, como a União Europeia ou o Conselho de Segurança das Nações Unidas, serem, às vezes, mais rigorosas, exigentes e contundentes nas suas posições” do que os africanos no “tratamento dos conflitos que se desenrolam” em África.

Para João Lourenço, de acordo com as suas palavras, o continente deve terminar com os actos de desestabilização como o terrorismo, o extremismo violento, as mudanças inconstitucionais de Governos democraticamente eleitos e as guerras, tendo citado exemplos como o do Sudão e da República Democrática do Congo.

Entretanto, sugeriu a criação de uma “arquitectura sólida de paz e segurança em África, que passam por desencorajamento, responsabilização e penalização com sanções pesadas sobre as pessoas e países promotores destes actos de desestabilização do continente.

Falando especificamente do caso da RDC, João Lourenço lembrou que os líderes africanos decidiram “não cruzar os braços, tendo insistido na busca de soluções pacíficas”, não permitindo que se concretizasse o que chamou de “plano de balcanização”, que segundo o Presidente angolano, já estava em curso.

Vale referir que, numa definição simples, a balcanização é um termo geopolítico que significa a fragmentação de um país ou região em vários Estados ou regiões menores. Os novos Estados ou regiões podem ser hostis entre si. Portanto, tem de se ter em conta que, João Lourenço, na qualidade de Presidente de Angola, é uma pessoa bem informada, daí que se deve levar a sério as suas abordagens.

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