Ligar-se a nós

País

Angosat-1 desapareceu há um ano

Publicado

em

No dia 26 de Dezembro, o que acabava de ser comemorado como o primeiro grande passo de Angola em direcção ao mundo tecnológico dava lugar à apreensão. O Angosat-1, o primeiro satélite angolano, colocado em órbita a partir do cosmódromo Baikonur, no Cazaquistão (Rússia), perdia contacto, momentos após o lançamento.

Da manhã de 27 de Dezembro até à noite do dia seguinte, os especialistas tentam restaurar a conexão com o satélite em órbita. A empresa russa RKK Energia, que liderou o consórcio que construiu o aparelho, admitia interrupção “temporária, com perda de telemetria”.

Na capital russa, o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, desvalorizava os cenários criados no sentido de um eventual prejuízo. “Não há razões para alarmes. É normal que haja preocupação, visto ser a primeira vez que Angola entra para o domínio espacial”, explicava o ministro, que integrava a comissão saída de Luanda para a cerimónia de lançamento do Angosat-1, no cosmódromo Baikonur.

O governante acabava de assistir na televisão, em Moscovo, ao acto de lançamento, não o tendo presenciado, “in loco”, por dificuldades de transportação.

“É normal que as pessoas estejam preocupadas e queiram ter acesso a informações concretas. Fomos informados, pela equipa que está na estação de Baykonour, que o satélite está na sua base orbital. Precisamos, agora, nas próximas 12 ou 14 horas, que os engenheiros possam concluir com exactidão o que se está a passar, com recurso à observação microscópica. Deste modo, será possível determinar que comandos enviar para o engenho”, esclareceu.

Entretanto, foi preciso aguardar até 23 de Abril, quatro meses depois, para o anúncio de uma notícia que quase todo o mundo já sabia ou pelo menos previa, desde o primeiro dia: o Angosat-1, que tornaria Angola no sétimo país africano a ter um satélite próprio de comunicações em órbita, estava inoperante. Da lista fazem parte apenas Argélia, África do Sul, Egipto, Marrocos, Nigéria e Tunísia.

Construído e lançado com um custo total de 320 milhões de dólares, para um tempo de vida útil de 15 anos, o Angosat1 surgia como uma oportunidade para expansão dos serviços de comunicação via satélite, acesso à Internet, rádio, telefonia e transmissão televisiva, já que conseguiria cobrir um terço do globo terrestre.

O Angosat-1 foi desenvolvido com base em três acordos. Um primeiro contrato de construção e lançamento, avaliado em 252 milhões de dólares (Só o satélite em si são 120 milhões de dólares e o lançamento impõe a construção de um veículo que o leva).

O outro contrato, de 50 milhões de dólares, para a construção do segmento terrestre, inclusive o Centro de Comando de Satélite da Funda, e um terceiro de 25 milhões de dólares, que permitiu alugar a posição orbital onde o dispositivo estaria durante 18 anos.

O Angosat-1, que começou a ser construído em 2012, teria 10 por cento dos serviços canalizados ao sector social, para permitir a educação à distância, telemedicina, além de mais de 80 por cento comercializada a nacionais e estrangeiros. A expectativa era enorme, principalmente, porque, a cada mês, as operadoras nacionais gastavam, em média, 15 a 20 milhões de dólares, comprando serviços de satélite a outros países. O satélite angolano possui um centro primário de controlo e missão em Angola, na comuna da Funda, em Luanda, e outro secundário na Rússia, em Korolev.

Antes do lançamento foi anunciado que a quase total capacidade do Angosat-1 estava negociada e que havia uma incidência em cinco sectores primordiais de ven-da de banda: telecomunicações, media, defesa e segurança, petrolíferas e nos de prestação de serviço, com realce para a última área.

As reservas são pagas num valor equivalente à primeira prestação, de modo a garantir a compra, daí existirem já reservas de Moçambique, Lesotho, Congo Brazzaville, Congo Democrático, Togo e uma negociação em curso com o Reino da Bélgica.

Em Abril deste ano, a Rússia pedia desculpas pelos transtornos causados pelo insucesso do Angosat-1, que registou “falhas técnicas” desde o lançamento, antes da confirmação oficial da inoperância. O Angosat-1 tem um seguro de 121 mi-lhões de dólares, que, em caso de acidente ou desaparecimento, cobre a totalidade dos custos da sua substituição.

Ao mesmo tempo, era anunciada a construção do Angosat-2, com previsão de lançamento para 2020. A Rússia atribuiu para Angola, sem qualquer custo, 216 Megahertz na Banda C e 216 Megaheartz na Banda Ku, para suportar todos os serviços necessários. A compensação vem colmatar os problemas verificados no Angosat-1, à luz do contrato que obriga a parte russa a assumi-las na totalidade, incluindo as reservas feitas pelos interessados na compra do sinal.

O Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação anunciou que a compensação tem sido usada para prestar os serviços que estavam previstos no Angosat-1, nomeadamente, aos organismos do Estado e 20 por cento da capacidade tem sido aplicada a causas sociais, como telemedicina, teleducação, Internet pública, projecto liga liga.

As capacidades estão também a ser utilizadas para a promoção e aplicação da telemedicina em hospitais públicos, a exemplo do que foi feito nas províncias do Huambo e Moxico. São também utilizadas na disponibilização de serviços de Internet em pontos públicos.

As capacidades disponibilizadas pela parte russa seriam também um elemento de pressão para pedir aos operadores para baixarem o custo dos serviços, o que acabou por não acontecer. O primeiro satélite angolano foi construído para garantir a comunicação e transmissão de televisão por todo o continente africano. Para as vendas do satélite, estavam reservados já 40 por cento para as operadoras, 10 por cento para os serviços de segurança e defesa nacionais e outros 10 por cento para acções sociais (como sectores da Educação e Saúde e pequenos negócios).

 

JA




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD