Sociedade
Angolanos retidos em Portugal sem bilhetes da TAAG impedidos de regressar ao país
Documentos em posse do Correio da Kianda, entre e-mails e áudios enviados por angolanos retidos em Portugal por força da Covid-19, denunciam estarem a ser “discriminados” pela Comissão Interministerial de Prevenção ao Covid-19 e pelos consulados de Angola em Lisboa e Porto, por não serem abrangidos no repatriamento ao país nos voos humanitários da TAAG, por, supostamente, terem viajado a Portugal por outras companhias.
Trata-se de um grupo de angolanos, que viajou para aquele país luso, muitos por razões de saúde, de estudos, de negócios, de acompanhamento e alguns de férias e que viram-se retidos naquele território, como consequência do encerramento das fronteiras aéreas e marítimas internacionais entre Angola e Portugal, na sequência da pandemia da Covid-19.
Segundo relatam, muitos dos quais clamam por ajuda de alimentos e tectos para dormir e que, dadas as condições sociais e psicológicas deploráveis em que se encontram, muitos destes encontram-se a viver ao relento, por não terem mais dinheiro para sustentar-se ou abrigo.
Entretanto, segundo denunciam, a TAAG tem estado a obrigar os angolanos detentores de bilhetes de outras companhias, a comprarem novos bilhetes da companhia angolana, caso queiram embarcar nos voos humanitários para regressarem ao país.
Tratando-se de voos humanitários de repatriamento, os cidadãos entendem estar diante de um acto contrário ao espírito de trabalho que tem sido levado a cabo pelo executivo, no repatriamento e socorro de angolanos involuntariamente retidos fora do país, por revelar “discriminação, injustiça e desumanidade para com aqueles angolanos que por vários motivos (de preço, de escala, de calendário, de oportunidade) e devidamente autorizados decidiram viajar em outras companhias”, escrevem.
Acrescentam, os cidadãos impedidos de regressar ao país por terem escalado Portugal pelas outras companhias aéreas, em carta enviada a este jornal, de estarem “condenados ao abandono e sofrimento, num quadro de total incerteza, até a retoma de voos comerciais para as suas companhias, pelo que clamam as autoridades angolanas a reverem a situação”.
Dado ao sofrimento físico e psicológico devido a incerteza, desconfiança e o longo tempo de involuntária estadia em território estrangeiro, os referidos cidadãos pedem “urgência na situacão, sob pena de alguns perderem a vida naquele território por depressão”.
Passagens a 700 euros
De acordo com o documento que chegou a redação do Correio da Kianda, há neste momento cem passageiros angolanos que se encontram retidos em Portugal há vários meses com bilhetes de passagem da TAP, da Air France e Emirates, a espera de autorização do Estado para regressar ao país.
“Foi nos dito que tínhamos de fazer apenas a inscrição no consulado, fornecendo cópia do passaporte e bilhete de passagem válido para ter acesso aos voos humanitários ou de repatriamento”, dizem.
Os denunciantes, que pediram em fazer no anonimato, esperavam regressar a Angola no dia 24 deste mês, para o desencanto dos angolanos, estão a ser cobrados quase 700 euros para o regresso, valor que muitos alegam não ter.
“Já estamos retidos aqui há muito tempo, para além do teste de Covid, que temos de pagar 40 Euros, vamos buscar aonde 680 euros? Tem pessoas que já não tem o que comer e onde dormir”, denunciam e destacam que estão “a preparar uma manifestação e será convocada a comunicação social portuguesa”.
Com António Cassoma