Opinião
Angola refém das importações? A urgência de uma Estratégia Nacional de Logística para a Segurança Alimentar
A construção de uma Estratégia Nacional de Logística (Supply Chain) robusta e eficiente é fundamental para impulsionar o sector produtivo de Angola. Diante da necessidade de garantir a segurança alimentar e optimizar a gestão dos produtos essenciais para importação, o país deve adoptar medidas estruturantes que promovam a modernização da cadeia de abastecimento, reduzam os custos operacionais e fortaleçam a capacidade de produção e distribuição nacional. Como destaca Christopher (2011), “uma cadeia de suprimentos eficiente é aquela que integra processos, reduz desperdícios e maximiza o valor para todos os envolvidos”.
Ao longo dos últimos anos, a globalização e a digitalização dos processos produtivos trouxeram novos desafios e oportunidades para a logística em países em desenvolvimento, como Angola. Segundo Chopra e Meindl (2019), “as cadeias de suprimentos modernas precisam ser altamente adaptáveis, responsivas e resilientes diante das incertezas do mercado”. Neste contexto, Angola precisa desenvolver uma abordagem estratégica que inclua investimentos em infra-estruturas, digitalização e políticas públicas que incentivem a eficiência logística, garantindo o abastecimento da população e promovendo o crescimento económico sustentável.
O Desafio da Segurança Alimentar
Angola possui um grande potencial agrícola, com vastas extensões de terra arável e recursos hídricos favoráveis. No entanto, desafios como a deficiência na infra-estrutura logística, dificuldades no escoamento da produção e a elevada dependência da importação de alimentos comprometem a segurança alimentar da população. Segundo Porter (1996), “a vantagem competitiva de uma nação está directamente ligada à sua capacidade de desenvolver sectores estratégicos e garantir eficiência produtiva”.
A dependência excessiva das importações de produtos básicos cria vulnerabilidades no fornecimento e pode levar a aumentos nos preços dos alimentos, especialmente em momentos de crise global. Mentzer et al. (2001) ressaltam que “a construção de cadeias de suprimentos robustas passa pela redução da dependência externa, pelo aumento da produção local e pelo fortalecimento das conexões entre produtores e consumidores”. Dessa forma, Angola deve buscar uma abordagem integrada que conecte agricultores, distribuidores e consumidores finais, minimizando desperdícios e assegurando um fornecimento constante de produtos essenciais.
Articulação entre Agricultura Familiar e Empresarial
A integração entre a agricultura familiar e empresarial desempenha um papel crucial no fortalecimento da segurança alimentar e na criação de uma cadeia de suprimentos mais eficiente em Angola. A agricultura familiar, responsável por grande parte da produção de alimentos no país, precisa ser melhor conectada ao sector empresarial, que dispõe de maior capacidade tecnológica, infra-estrutura e acesso a mercados. Como afirmam Hazell e Rahman (2014), “a complementaridade entre a agricultura familiar e a empresarial é essencial para impulsionar a produtividade e garantir a sustentabilidade das cadeias agro-alimentares”.
Para alcançar essa sinergia, é necessário:
■ Criar plataformas de cooperação entre pequenos produtores e grandes empresas agro-industriais, promovendo o compartilhamento de tecnologias e boas práticas agrícolas.
■ Garantir o acesso a financiamento e insumos para a agricultura familiar, facilitando a sua integração às cadeias de valor e tornando-a mais competitiva.
■ Estabelecer redes de distribuição que conectem directamente os produtores familiares aos centros de consumo, reduzindo desperdícios e melhorando a rentabilidade dos pequenos agricultores.
■ Investir na capacitação dos agricultores familiares, permitindo que adoptem técnicas agrícolas mais eficientes e sustentáveis.
■ A parceria entre agricultura familiar e empresarial pode ser impulsionada por meio de programas de incentivos governamentais, feiras agropecuárias e a criação de cooperativas. Essa abordagem não só fortalece a economia rural, mas também garante maior estabilidade no fornecimento de alimentos para as cidades para reduzir a dependência da importação.
Pilares da Estratégia Nacional de Logística
Para enfrentar esses desafios, a estratégia deve assentar-se em três pilares fundamentais:
1. Infra-estrutura e Conectividade
Investimentos na modernização de portos, estradas, ferrovias e centros de armazenamento.
Desenvolvimento de corredores logísticos eficientes que integrem as zonas rurais aos centros urbanos e mercados consumidores.
Expansão da rede de transporte multimodal para reduzir custos e tempo de distribuição.
De acordo com Ballou (2006), “o sucesso logístico está directamente ligado à capacidade de integração das redes de transporte, garantindo eficiência e redução de custos”.
A ampliação da infra-estrutura deve considerar a adopção de práticas sustentáveis, como o uso de transportes menos poluentes e a optimização das rotas de distribuição para reduzir o impacto ambiental.
2. Tecnologia e Digitalização
Implementação de sistemas de rastreamento e monitorização de carga em tempo real.
Uso de Big Data e Inteligência Artificial para optimizar a gestão do fluxo de mercadorias.
Criação de plataformas digitais para facilitar a comercialização de produtos agrícolas e industriais.
Segundo Chopra e Meindl (2019), “a transformação digital na logística permite maior transparência, previsibilidade e eficiência na cadeia de suprimentos”.
A automação dos processos logísticos deve ser incentivada, promovendo o uso de robótica e Internet das Coisas (IoT) para aprimorar o controlo de estoques e a distribuição de mercadorias.
3. Políticas de Incentivo e Parcerias Estratégicas
Estímulo ao sector privado para investimentos na cadeia logística.
Fortalecimento da indústria nacional por meio de incentivos fiscais e políticas de apoio à produção local.
Cooperação com países estratégicos para facilitar o acesso a tecnologias e boas práticas logísticas.
Como defendem Mentzer et al. (2001), “a colaboração entre os sectores público e privado é essencial para criar cadeias de suprimentos sustentáveis e competitivas”.
A criação de zonas económicas especiais pode ser uma alternativa viável para atrair investimentos e fomentar a produção industrial local.
Finalmente, é necessário referenciar que a construção de uma Estratégia Nacional de Logística para o sector produtivo é uma necessidade urgente para Angola. Com investimentos estratégicos, modernização da infra-estrutura e uso de tecnologias inovadoras, o país poderá reduzir a dependência externa, fortalecer a produção local e assegurar um sistema eficiente de abastecimento. O compromisso do governo, em parceria com o sector privado, será essencial para transformar esse plano em realidade, garantindo um futuro mais próspero e sustentável para todos os angolanos. Como destacam Chopra e Meindl (2019), “a excelência na logística não é apenas um diferencial competitivo, mas um requisito fundamental para o desenvolvimento económico e social”.