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Opinião

Angola: o dilema entre a confiança política e a meritocracia

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A recente decisão da Assembleia Nacional de Angola de excluir Jonas Savimbi e Holden Roberto da Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional suscita um debate intenso sobre a reconciliação nacional e a inclusão histórica. Esta deliberação ocorre num momento em que Angola se prepara para assumir a presidência rotativa da União Africana (UA), enfatizando a paz e a inclusão como pilares fundamentais.

Contexto Histórico

A luta pela independência de Angola foi marcada pela actuação de três movimentos principais: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto; a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), sob a liderança de Holden Roberto; e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), fundada por Jonas Savimbi. Cada um destes movimentos desempenhou um papel crucial na resistência contra o colonialismo português, embora com ideologias e estratégias distintas.

Após a independência em 1975, Angola mergulhou numa prolongada guerra civil, principalmente entre o MPLA e a UNITA, que só terminou em 2002 com a morte de Jonas Savimbi. Este conflito deixou cicatrizes profundas na sociedade angolana, tornando a reconciliação nacional um objetivo central nas décadas subsequentes.

Implicações da Decisão

A exclusão de Savimbi e Roberto das honrarias do 50.º aniversário da independência levanta questões sobre a narrativa oficial da história angolana e os esforços de reconciliação. Embora Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos sejam reconhecidos como ex-presidentes da República, é inegável que Savimbi e Roberto tiveram papéis significativos na luta anticolonial.

Esta decisão pode ser interpretada como uma tentativa de privilegiar uma visão histórica alinhada ao MPLA, potencialmente marginalizando outras perspetivas. Num período em que o país promove a paz e a inclusão, tal medida pode ser vista como contraproducente, arriscando reabrir feridas históricas e aprofundar divisões políticas.

Desafios na Presidência da União Africana

Ao assumir a presidência rotativa da UA, Angola tem a oportunidade de demonstrar liderança na promoção da paz e da reconciliação no continente. No entanto, decisões internas que sugerem exclusão ou parcialidade podem minar a credibilidade do país neste papel.

A UA enfrenta desafios significativos, incluindo conflitos armados, crises humanitárias e a necessidade de fortalecer a integração económica. A experiência de Angola na mediação de conflitos e na promoção da estabilidade pode ser valiosa. Contudo, para ser um exemplo eficaz, é crucial que Angola demonstre um compromisso genuíno com a inclusão e a reconciliação a nível nacional.

Conclusão

A decisão de excluir figuras como Jonas Savimbi e Holden Roberto das comemorações oficiais do 50.º aniversário da independência de Angola suscita preocupações legítimas sobre a abordagem do país à sua própria história e aos esforços de reconciliação. Num momento em que Angola se prepara para liderar a União Africana, é imperativo que as ações internas reflitam os princípios de paz e inclusão que o país pretende promover a nível continental.

Reconhecer todas as figuras que contribuíram para a independência, independentemente das divergências políticas subsequentes, seria um passo significativo para a verdadeira reconciliação nacional. Ao fazê-lo, Angola não só fortaleceria a sua coesão interna, mas também consolidaria a sua posição como líder comprometido com a paz e a unidade em África.

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