Análise

Angola na geopolítica de 2025: a afirmação silenciosa de uma potência diplomática africana

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O ano de 2025 marcou um ponto de viragem no posicionamento de Angola no campo da política internacional e da geopolítica africana. Longe do ruído mediático e das posturas performativas que hoje dominam a cena global, a diplomacia angolana optou por uma estratégia clássica: discrição, consistência e pragmatismo. O resultado foi claro, mais influência real e maior credibilidade internacional.

O principal trunfo de Angola este ano foi o seu papel como mediador regional, com destaque para o processo de diálogo entre a República Democrática do Congo e o Ruanda. Num dos dossiês mais sensíveis da África Central, Luanda assumiu-se como actor de confiança, capaz de falar com todas as partes sem alinhamentos automáticos. Este posicionamento elevou o Presidente João Lourenço à condição de figura-chave da diplomacia preventiva africana, reforçando a imagem de Angola como Estado estabilizador numa região marcada por conflitos prolongados.

Paralelamente, Angola consolidou o seu reposicionamento estratégico no continente africano, reforçando a articulação entre a África Austral e a África Central. No seio da União Africana, o país manteve um discurso coerente em defesa da soberania dos Estados, da não ingerência e da primazia de soluções africanas para problemas africanos, uma narrativa que encontra eco num continente cansado de tutelas externas.

No plano das grandes potências, 2025 foi o ano do pragmatismo frio. Com os Estados Unidos, Angola aprofundou uma relação baseada na segurança regional, energia e estabilidade, sendo vista como parceiro confiável num contexto continental instável. Com a China, assistiu-se a uma relação mais madura, marcada por renegociação de interesses e pela exigência de investimentos com impacto económico real. Já com a União Europeia, Angola passou a ser tratada menos como receptor passivo e mais como interlocutor político relevante, sobretudo nos domínios da governação, transição energética e cooperação técnica.

No multilateralismo, Angola manteve uma linha previsível e respeitada: defesa do direito internacional, valorização do papel das Nações Unidas e prudência face a sanções unilaterais. Sem populismo diplomático, sem radicalismos ideológicos, uma postura que, embora pouco mediática, gera respeito institucional.

Nem tudo, porém, foi plenamente aproveitado. A comunicação estratégica externa continua a ser um dos elos fracos da política externa angolana. O país faz mais do que comunica, e comunica menos do que poderia capitalizar. Além disso, a academia e a sociedade civil continuam pouco integradas na construção de uma narrativa geopolítica nacional.

Ainda assim, o balanço de 2025 é inequívoco: Angola afirmou-se como uma potência diplomática média africana, respeitada, escutada e com margem de manobra crescente. Num mundo cada vez mais polarizado, esta afirmação silenciosa pode revelar-se o seu maior activo estratégico.

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