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Angola está preparada para as profissões do futuro?

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O mercado de trabalho em Angola, tal como em muitos países em desenvolvimento, está a viver uma fase de profundas transformações impulsionadas pela revolução digital. A globalização, a automação e a ascensão das Tecnologias da Informação (TI) estão a criar novas oportunidades e desafios para as profissões no país. Este artigo busca refletir sobre as profissões em ascensão no sector de TI, bem como sobre as profissões informais, ainda sem qualificação formal, mas que representam uma parcela significativa da economia angolana. Para tanto, é necessário compreender o papel da qualificação profissional e da regulamentação como instrumentos essenciais para o futuro da força de trabalho em Angola.

A Transformação Digital e as Profissões em Ascensão no Sector de TI

A revolução digital não está apenas a mudar a maneira como interagimos com o mundo, mas também a definir novas profissões no mercado de trabalho. A digitalização tem gerado uma grande demanda por profissionais de TI, especialmente nas áreas de cibersegurança, desenvolvimento de software e análise de dados. Segundo Brynjolfsson e McAfee (2014), a transformação digital está a provocar o “segundo grande estiramento”, um período de adaptação em que a automação e a inteligência artificial (IA) começam a substituir muitos empregos tradicionais, mas também criam novas oportunidades que exigem habilidades especializadas.

Em Angola, a ascensão das profissões de cibersegurança é especialmente relevante. Com o aumento da digitalização dos negócios e das infraestruturas públicas, a segurança cibernética tornou-se uma preocupação central. Henderson et al. (2019) destacam que a cibersegurança é uma das áreas de maior crescimento no mercado global de TI, com a necessidade crescente de proteger dados sensíveis e garantir a segurança das infraestruturas digitais. Esse fenómeno não é diferente em Angola, onde a digitalização de processos governamentais e empresariais exige profissionais qualificados para garantir a integridade e a segurança das informações.

Além disso, o aumento do comércio eletrónico e da digitalização das empresas em Angola está a criar uma forte demanda por desenvolvedores de software e aplicativos. Segundo López (2020), a criação de plataformas digitais e soluções tecnológicas está a acelerar, impulsionada pela busca de empresas por soluções personalizadas para melhorar a sua competitividade e eficiência. Em Angola, esse movimento pode ser observado em diversos sectores, como a educação, a saúde e o turismo, áreas que estão a adotar cada vez mais tecnologias digitais para otimizar processos.

Outro campo em expansão é o de Big Data e análise de dados, que se tornou uma habilidade essencial para as empresas que buscam obter insights estratégicos a partir da enorme quantidade de dados gerados no dia a dia. Mayer-Schönberger e Cukier (2013) argumentam que a análise de dados está a mudar a maneira como as decisões são tomadas, permitindo que empresas e governos adotem estratégias baseadas em evidências e não em intuições. Em Angola, à medida que o país se moderniza e as organizações buscam ser mais eficientes, a capacitação de profissionais especializados em Big Data será fundamental para gerar esses insights estratégicos.

A inteligência artificial (IA) e o machine learning também estão entre as tecnologias de maior impacto no mercado de trabalho global. De acordo com Chui et al. (2018), a IA e a automação têm o potencial de transformar radicalmente as indústrias, desde o sector bancário até o sector de saúde, criando novas oportunidades, mas também desafiando os trabalhadores a se adaptarem a novas exigências. Para Angola, a formação de profissionais em IA e machine learning será crucial para se manter competitivo na economia global, que cada vez mais depende de inovação tecnológica.

Profissões do Futuro: Oportunidades Emergentes e Desafios

À medida que as tecnologias evoluem, novas profissões estão a surgir. O 5G, a computação quântica e a blockchain são áreas promissoras que abrirão novas oportunidades para profissionais especializados. Segundo Schwab (2016), o futuro do trabalho será caracterizado pela integração de novas tecnologias que transformarão todos os sectores da economia, exigindo profissionais com habilidades em áreas que ainda estão em fase de desenvolvimento.

A computação quântica, por exemplo, é um campo emergente que pode revolucionar a capacidade de processamento de dados, permitindo resolver problemas complexos que os computadores tradicionais não conseguem lidar. A necessidade de engenheiros quânticos será crescente nos próximos anos, e Angola, como outros países, precisa preparar-se para capacitar uma nova geração de profissionais para essa área. Johnson et al. (2019) apontam que a computação quântica será essencial em áreas como simulações científicas, segurança de dados e otimização de processos.

A realidade aumentada (AR) e a realidade virtual (VR) também se destacam como áreas de grande potencial. Slater e Wilbur (1997) argumentam que as tecnologias de AR e VR têm um grande impacto em diversos sectores, incluindo educação, saúde, formação e entretenimento. Profissionais especializados no desenvolvimento dessas tecnologias terão um papel fundamental na criação de experiências imersivas, especialmente à medida que a educação e a formação em Angola se tornam mais digitais.

No entanto, muitas dessas novas profissões ainda não possuem uma regulamentação formal. A falta de um marco legal e de qualificações estabelecidas pode ser um obstáculo para o crescimento de sectores emergentes. Brynjolfsson e McAfee (2014) sugerem que é essencial que governos e instituições educacionais se adaptem rapidamente a essas mudanças para garantir que os profissionais estejam preparados para o futuro.

Profissões Informais: A Realidade do Mercado de Trabalho em Angola

Embora as novas profissões tecnológicas ganhem destaque, um grande número de trabalhadores em Angola ainda opera no sector informal, especialmente em áreas como o comércio, a agricultura e a construção civil. As profissões informais, que muitas vezes não possuem uma qualificação formal, desempenham um papel crucial na economia angolana, proporcionando emprego a milhões de pessoas.

Profissões como vendedores ambulantes, artífices da construção civil, cabeleireiros, agricultores e guias turísticos estão em ascensão, mas a falta de regulamentação e qualificação formal dessas profissões pode prejudicar tanto os profissionais quanto a economia. Portes (2010) argumenta que a informalidade no mercado de trabalho tem benefícios em termos de flexibilidade e acesso à renda, mas também cria desafios significativos, como a falta de segurança no trabalho e a impossibilidade de acesso a benefícios sociais.

Por exemplo, os trabalhadores manuais da construção civil, como pedreiros, carpinteiros e eletricistas, desempenham funções essenciais na infraestrutura de Angola. No entanto, muitos desses profissionais operam sem certificação ou formação formal, o que compromete a qualidade do trabalho e a segurança nas obras. A formalização e a qualificação desses profissionais podem ser um caminho para melhorar tanto a qualidade das construções quanto a segurança no trabalho.

Outro sector significativo é o do transporte público, onde os motoristas de táxis e de transporte coletivo operam em sua grande maioria de forma informal, sem a qualificação adequada, o que representa um risco tanto para os passageiros quanto para os próprios motoristas. A criação de programas de formação profissional e certificação poderia melhorar a qualidade do serviço e aumentar a segurança.

A Necessidade de Qualificação e Regulamentação das Profissões Informais

A regulamentação das profissões informais será crucial para o desenvolvimento económico e social de Angola. A criação de qualificações específicas e programas de capacitação para essas profissões pode melhorar a produtividade e a segurança, além de contribuir para a formalização da economia, gerando mais receita fiscal e garantindo uma maior proteção social para os trabalhadores. De Soto (2000) argumenta que a formalização da economia é um passo essencial para o crescimento sustentável, pois permite que os trabalhadores informais acessem direitos e benefícios que são muitas vezes negados a eles no sector informal.

Além disso, a qualificação contínua será um factor chave para a adaptação dos profissionais às novas exigências do mercado de trabalho, especialmente nas áreas tecnológicas emergentes. As universidades e instituições de ensino técnico têm um papel fundamental em preparar os cidadãos para as profissões do futuro, enquanto os órgãos reguladores podem facilitar o processo de formalização das profissões informais, criando um ambiente mais justo e seguro para os trabalhadores.

Conclusão: Preparando-se para o Futuro Profissional em Angola

O futuro das profissões em Angola será moldado pela convergência entre as novas tecnologias e as profissões tradicionais que ainda não têm qualificação formal. O mercado de trabalho está a experimentar uma transformação significativa, e a qualificação e regulamentação profissional serão essenciais para garantir que o país esteja preparado para os desafios do futuro.

Ao investir na formação de profissionais qualificados nas áreas emergentes da tecnologia e ao promover a formalização e regulamentação das profissões informais, Angola pode criar uma força de trabalho mais resiliente e competitiva. A Academia, os governos e as empresas têm um papel crucial na implementação de políticas e programas que promovam a adaptação ao novo cenário profissional e garantam que as futuras gerações estejam bem preparadas para um mercado de trabalho em constante evolução.

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Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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