Politica
“Angola é o maior Estado-director na resolução de conflitos em África”
“Angola como um país periférico, aquilo que tem sido a sua caracterização, não só a nível regional, mas como também africano, já é o maior Estado-director na resolução de conflitos em África”.
A afirmação acima foi feita pelo especialista em relações internacionais, Crisóstomo Chipilica, em declarações exclusivas à Rádio Correio da Kianda sobre os esforços de Angola para a pacificação da República Democrática do Congo. De acordo com o analista, a estabilidade da RDC tem um “efeito dominó” nos países circunvizinhos.
Na última quinta-feira, o Presidente da República, João Lourenço, manteve uma conversa por telefone com o seu homólogo do Ruanda, Paul Kagame, centrada no conflito armado vigente no Leste da República Democrática do Congo.
Neste momento, segundo o analista, Angola deve ser consultada em toda tentativa da comunidade internacional para se encontrar a paz na RDC. O especialista aconselha o país a continuar a envidar esforços para a pacificação daquele país vizinho para que se tenha a desejada estabilidade na região austral, e não só.
Leia abaixo a entrevista com o especialista em relações internacionais, Crisóstomo Chipilica.
Como vê o papel angolano na pacificação da região austral de África?
Angola como um país periférico, aquilo que tem sido a sua caracterização, não só a nível regional, mas como também africano, já é o maior Estado-director na resolução de conflitos em África. Essa é a minha humilde opinião. O voto dessa meritocracia não podemos deixá-la em mãos alheias.
Por isso defende a consulta a Angola?
Qualquer envolvimento da ONU como um parceiro privilegiado, como um parceiro com capacidade, não só a nível logístico, mas também ao nível de influência política, ao nível do sistema internacional, todo esse esforço e engajamento do papel da Angola, qualquer resolução que passe para uma negociação de paz efectiva deve ter em primeira instância uma consulta a Angola. Porque, de alguma forma, pela nossa capacidade, pela nossa insistência na resolução deste grande conflito sistémico e fraturante entre os dois países vizinhos, Angola já é um potencial actor que, ao nível de uma estratégia de pacificação de paz naquela região, Angola deve ser sempre um actor a ter em conta e deve ser chamada para uma consulta, não só do ponto de vista político, mas também do ponto de vista naquilo que é a sua experiência nos últimos tempos que tem exercido no papel para a pacificação da paz da RDC.
Como avalia a reunião entre João Lourenço e Paul Kagame?
Estamos no último trimestre do fim do ano, costumo a dizer que, dentro dessas concertações, que é de fórum formal da opinião pública, que é de interesse dos dois países, entre o Ruanda e a RDC, e também do interesse da Angola, há outra diplomacia, que é a outra diplomacia de baixa visibilidade secreta, que, de alguma forma, esses actores vão encontrando, do ponto de vista de convergência, do ponto de vista de interesses, do ponto de vista de soberania territorial, outras negociações que, de alguma forma, possam dirimir e que vão ao encontro daquilo que são as vontades que, do ponto de vista da transversalidade entre os dois Estados, possam-se, de alguma forma, encontrar uma solução efectiva para a paz no Leste da RDC, com o seu país vizinho, neste caso, o Ruanda.
Quais as suas perspectivas?
Louvamos essa iniciativa, devemos continuar, porque não há nenhum conflito no mundo que não se chegue a acordo numa mesa de negociação. Esperamos que Angola, naquilo que é a sua posição de influência ao nível regional, possa, de facto, conseguir persuadir estes dois actores, estes dois líderes, não só Tshisekedi, como também Paul Kagame, de que não é um conflito de interesse de ego dos dois líderes, mas sim é o interesse, não só de África, é o interesse dos dois povos que de praxe que tivesse o seu fim de imediato.
Edição: Fabiana André