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Angola 2026: crescer ou continuar apenas a sobreviver?

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Todos os anos, por volta de Outubro ou Novembro, começam as reuniões de balanço nas empresas, nas administrações municipais, nas escolas, nos ministérios e até nos pequenos negócios. E todos os anos repete-se o mesmo ritual: abre-se o documento do “Plano para o Ano Seguinte” e lá estão as palavras de sempre, cortar, reduzir, minimizar, proteger, travar, ajustar. Parece quase um vocabulário oficial do país.

É como se planeássemos o futuro com a alma encostada à parede.

Mas será que Angola pode continuar a crescer se o seu planeamento estiver preso ao medo?

A neurociência diz que quando o nosso cérebro enfrenta incerteza, e incerteza é palavra que Angola conhece bem, o córtex pré-frontal activa um modo defensivo. É instintivo: guardar, proteger, reduzir riscos. O problema é que nenhuma empresa, nenhuma carreira e nenhum município se desenvolve apenas a “defender”.

A verdade é simples: ninguém chega longe a olhar apenas para o buraco da estrada; o progresso nasce quando se olha também para o horizonte.

O medo que molda os planos

Muitos gestores, empreendedores e servidores públicos angolanos acordam todos os dias para resolver emergências. A energia que falhou, o fornecedor que não entregou, a estrada que não tem drenagem, o mercado informal que precisa de ser reorganizado, o orçamento que não chega.

No meio desta avalanche, é natural que o cérebro angolano, treinado para reagir, ignore o construir e se agarre ao proteger.

Mas essa lógica tem um custo: reduz visão, mata ambição e transforma o futuro numa simples extensão do presente.

Quando alguém em Angola diz: “Vamos ver se dá”, normalmente significa “Não acredito muito, mas tentemos”. É uma expressão que revela aquilo que a psicologia positiva descreve como viés negativo, que drena motivação e trava a inovação.

As pequenas vitórias que o país ignora

A ciência mostra que celebrar pequenas vitórias activa a dopamina, reacende motivação e melhora a nossa capacidade de projectar o futuro.

E Angola tem pequenas vitórias todos os dias, só que raramente as reconhece.

O jovem que abre um salão de estética com duas cadeiras e transforma-o num negócio sólido.
O professor que inovou a aula mesmo sem internet.
A administração comunal que resolveu o problema do lixo de forma criativa.
O empreendedor agrícola que enfrenta custos elevados, mas insiste em produzir.

Cada uma dessas histórias é um lembrete de que crescimento não é milagre: é acumulação de pequenas conquistas que criam grandes transformações.

Planeamento com visão angolana

Planear Angola é diferente de planear outros países. Exige coragem emocional, inteligência adaptativa e uma capacidade quase espiritual de manter esperança em cenários adversos.

Por isso, o plano de 2026, seja de um município, de uma empresa ou de uma pessoa, precisa de equilibrar duas forças:

1. Protecção inteligente, porque ignorar riscos em Angola é ingenuidade.

2. Construção ousada, porque um país não muda apenas com contenção.

E, acima de tudo, precisa de algo que falta nas nossas mesas de reunião: perspectiva externa.

A mentoria, o conselho profissional, a visão de fora, como mostram os estudos, ampliam horizontes e quebram a repetição automática do “não dá” e do “aguentar até melhorar”.

Angola precisa de mais olhos de fora a ajudar a ver o que, de dentro, parece invisível.

Entre sobreviver e prosperar

2026 está à porta. A grande pergunta para o país não é apenas económica, política ou institucional: é psicológica.

Vamos continuar a viver como quem se esconde do futuro?
Ou vamos construir como quem acredita que o futuro pode, finalmente, valer a pena?

O crescimento não começa na economia. Começa na mente.

E Angola, com toda a sua resiliência, criatividade e juventude, tem tudo para deixar de apenas sobreviver, e começar, de vez, a prosperar.

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