Análise
Análise da guerra comercial EUA-China: impactos e estratégias geopolíticas
1. Escalada Tarifária: Números e Disputa Retaliatória
– Tarifas Actuais:
– EUA: Taxam produtos chineses em 125%, após aumento de 50% em resposta à retaliação de Pequim .
– China: Retaliou com 84% sobre importações dos EUA, totalizando 104% quando somadas às tarifas anteriores .
Contexto: Trump justifica as medidas como “reciprocidade” para reduzir o défice comercial de US$ 295 bilhões com a China, enquanto Pequim acusa os EUA de “chantagem económica” .
– Dinâmica Retaliatória:
A China rejeitou recuar, classificando as acções dos EUA como “unilateralismo” e “intimidação”, e prometeu “lutar até o fim”. Já Trump vinculou as tarifas à necessidade de “reequilibrar a desindustrialização” norte-americana, embora economistas questionem a eficácia dessa estratégia .
2. Impactos Económicos Imediatos
– Mercados Globais:
Volatilidade: Bolsas mundiais tiveram quedas históricas (ex.: Nasdaq -2,15%, S&P 500 -1,57%) antes de recuperarem parcialmente após a “pausa” de 90 dias nas tarifas para países não retaliatórios.
Moedas: O yuan chinês atingiu mínimos recordes, pressionado por fugas de capital, enquanto o dólar oscilou fortemente (ex.: R$ 6,09 no Brasil) .
– Sectores Afectados:
EUA: Electrónicos (ex.: iPhone da Apple, com acções em queda de 20%) e baterias para veículos eléctricos encarecerão, impactando consumidores e empresas.
China: Soja e petróleo importados dos EUA terão custos elevados, pressionando a indústria de alimentação (ex.: criação de porcos) .
3. Estratégias Geopolíticas em Jogo
– EUA:
Reindustrialização: Trump busca atrair fábricas de volta aos EUA, mas críticos apontam riscos inflacionários e dependência de importações via terceiros países (ex.: Vietnã, Malásia) .
Alianças Selectivas: Isenção de tarifas para Canadá, México e Brasil (10%) visa evitar retaliações e manter parceiros estratégicos.
– China:
Resiliência Económica: Utiliza superávit comercial de US$ 1 trilhão e controle estatal do yuan para mitigar impactos .
Guerra Tecnológica: Ameaça restringir exportações de terras raras (ex.: germânio, gálio) e ampliar barreiras não tarifárias a produtos agropecuários dos EUA .
4. Repercussões Globais e Riscos Sistémicos
– Fragmentação Comercial:
A guerra acelera a divisão em blocos (ex.: EUA vs. China + aliados do Sul Global), com a UE e outros países impondo tarifas próprias .
– Ameaça de Recessão:
O FMI alerta que uma desaceleração prolongada das duas maiores economias (43% do PIB global) pode reduzir o crescimento mundial em 1,5% até 2026 .
– “Dumping” Chinês:
Excesso de produção (ex.: aço) pode inundar mercados como o Reino Unido, ameaçando indústrias locais .
5. Cenários Futuros e Conclusão
– Estagnação Negocial:
Não há diálogo formal em curso. A China recorreu à OMC, mas o sistema multilateral está enfraquecido .
– Pressões Domésticas:
EUA: Inflação e custos empresariais podem forçar Trump a recuar parcialmente, como fez com a “pausa” de 90 dias .
China: Crescimento interno desacelerado exige manutenção de exportações, mesmo com tarifas .
– Longo Prazo:
A guerra reforça a tendência de “desglobalização”, com realinhamentos produtivos e maior regionalização do comércio.
Conclusão Estratégica:
A escalada EUA-China redefine as regras do comércio global, privilegiando o poder económico sobre a cooperação. Enquanto Pequim aposta em resistência e diversificação, Washington arrisca isolamento ao priorizar medidas unilaterais. O mundo assiste a um jogo de xadrez onde os peões são economias menores e a estabilidade internacional.