Sociedade
Analfabetismo constitui principal desafio para o empoderamento da mulher rural
Esta é a conclusão saída da mesa redonda realizada nesta terça-feira, 20, pela ADRA, sobre os desafios do empoderamento da mulher rural, e que visou culminar com as jornadas da mulher rural, que decorreu desde o principio do mês de Outubro.
No evento, a chefe do departamento para Igualdade de Género e Equidade do Ministério da Acção Social, Família e promoção da Mulher (MASFAMU), Tánia Dinis, disse que a mulher, que constitui o maior segmento produtivo da população nacional no meio rural, enfrenta várias dificuldades para a execução das suas actividades diárias e empoderar-se.
Segundo Tánia Dinis, por conta das dificuldades que a mulher rural enfrenta, “muita atenção especial tem sido dada por parte da comunidade Internacional, Africana e particularmente a nível Nacional”, no sentido de criar-se oportunidades para o seu empoderamento.
“A estratégia do desenvolvimento rural em Angola e das suas comunidades passa necessariamente pela promoção e empoderamento das mulheres no meio rural, pelo facto de representarem a maior franja da população e representarem a maior força de trabalho agrícola, gestoras dos lares e sustentáculo do modo de vida rural”, referiu.
A chefe do Departamento para igualdade de Género disse igualmente que o MASFAMU, tecnicamente apoiado pela Comissão Nacional de Luta Contra Pobreza, coordena o Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate a Pobreza, para a melhoria do nível de vida das camadas mais desfavorecidas da população, com especial atenção no desenvolvimento das comunas e municípios.
Referiu ainda que para o cumprimento destes desafios, foi traçado um programa centrado em três eixos, nomeadamente, a Inclusão Produtiva Rural e Urbana, a Universalização do Acesso aos serviços públicos essenciais e as transferências sociais directas associadas as dinâmicas de geração de renda. O objectivo deste programa, de acordo com Tánia Dinis, é de retirar os cidadãos da situação de pobreza extrema por meio da sua integração em actividades geradoras de rendimentos, onde a Mulher Rural desempenha um papel fundamental.
Participaram da referida mesa redonda, realizada em vídeo conferencia, outras quatro mulheres, de igual número de províncias.
Pela província de Benguela participou a senhora Maria António, da Rede mulher do Cubal, que centrou a sua abordagem para a formação da mulher como factor de desenvolvimento sustentável, tendo passado, aos presentes, sua experiência na luta contra o analfabetismo, e referido que o facto de ter aprendido a ler e a escrever contribuiu significativamente para a ampliar a sua visão no desenvolvimento das actividades agrícolas.
Domingas Junju, da Associação Tuapama, no Huambo, falou da experiência de produção e comercialização dos produtos agrícolas, tendo apresentado o projecto ‘caixa Comunitária’, através da qual a cooperativa que lidera concede empréstimos. Segundo explicou, todos os meses, as 66 senhoras que integram a cooperativa fazem uma contribuição mensal à caixa da cooperativa, e é deste valor que têm tirado para conceder empréstimos tanto aos associados como aos demais interessados, com o prazo de reembolso de três meses, com a taxa de juro a diferenciar-se entre membros e não membros da cooperativa.
Domingas Junju disse ainda que com esta prática têm conseguido tirar as mulheres e famílias da situação da pobreza naquela província, muitas delas já conseguiram comprar bois e motorizadas de três rodas, com as quais alavancam as suas actividades agrícolas e melhoraram o sustento de suas famílias.
Domingos Major, da direcção da ADRA faz uma avaliação positiva das jornadas sobre o empoderamento da mulher, tendo destacado “uma transformação que está a acontecer no meio rural, uma evolução que demonstra autonomia, intervenção activa, pro-actividade e vontade de as mulheres de praticar a cidadania”. Na visão de Domingos Major, este salto positivo da mulher no meio rural é fruto do trabalho que a sua organização tem vindo a desenvolver ao longo dos 20 anos de sua existência.
Reforçou ainda para a necessidade da contínua capacitação da mulher rural, por entender que este empoderamento tem uma relação com as oportunidades que são dadas às mulheres. “Não há aqui incapacidades. A questão que se coloca aqui é nas oportunidades e, é preciso que sejam criadas oportunidades para que sejam aproveitadas e beneficiem as mulheres”.
No capítulo das dificuldades, o assistente de Direcção da ADRA disse que os altos níveis de analfabetismos, as questões culturais, que carecem de mudanças, para que as mulheres consigam facilmente desenvolver-se, bem como a melhoria das vias de comunicação para o escoamento dos produtos produzidos no campo, constituem os principais desafios a enfrentar.