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“África e Europa devem agir juntas e intensificar esforços neste momento decisivo de mudança geopolítica” 

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A afirmação é do Director Executivo da Fundação África-Europa, Paul Walton, que falava em Bruxelas, na Bélgica, na conferência de lançamento da 7ª Cúpula União Africana-União Europeia que a cidade de Luanda acolhe, nos dias 24 e 25 de Novembro.

O relatório da fundação de antevisão da Cúpula, divulgado ontem, de acordo com uma nota enviada ao Correio da Kianda, produzido pela AEF em conjunto com a Agência de Desenvolvimento da União Africana (AUDA-NEPAD) e mais de 50 instituições de pesquisa africanas e europeias de referência, denominado “O Estado da África-Europa 2025 – Financiando o Nosso Futuro”, apresenta uma agenda pragmática para uma parceria alicerçada na equidade, na responsabilidade partilhada e em resultados concretos.

A Fundação África-Europa (AEF) defende uma nova era na relação entre África e Europa, definida não pela ajuda externa, mas pelo investimento equitativo, e com resultados mensuráveis, ao invés de prender-se apenas em declarações. defende uma reformulação fundamental de como os dois continentes financiam seu futuro em conjunto.

África e Europa representam 1,8 bilhão de cidadãos e quase 30% dos Estados-membros da ONU, um peso colectivo capaz de moldar as agendas globais, mas sua cooperação financeira permanece subutilizada.

A Fundação insta ambos os lados a irem além dos ciclos de ajuda de curto prazo e a construírem uma estrutura de longo prazo para a co-propriedade e o co-investimento, onde o capital público e privado se combinam para gerar impacto em larga escala.

Um modelo que prioriza processos aprimorados e recursos financeiros mais inteligentes, caminhando decisivamente em direcção à criação de valor e a instrumentos inovadores que não reconhecem a necessidade de concessões entre a ambição climática e o desenvolvimento humano.

O relatório é a avaliação mais abrangente do género sobre as relações África-Europa, com as finanças como o fio condutor que atravessa todos os capítulos temáticos, da saúde aos minerais em transição, da governança oceânica às indústrias criativas. Ele surge em um momento simbólico, quando se espera que ambas as Uniões renovem sua parceria política 25 anos após sua criação.

A 7ª Cúpula UA-UE em Angola deve demonstrar uma mudança da intenção para a implementação, onde a visão da parceria se torna uma agenda de acção.

O Director Executivo da Fundação África-Europa, Paul Walton, comentou que “se a África e a Europa querem ser relevantes juntas, devem agir juntas, intensificar seus esforços neste momento decisivo de mudança geopolítica e demonstrar ganhos reais para as sociedades de ambos os continentes”. Considerou como sendo “um apelo para focar na execução, para construir as ferramentas, a confiança e o ritmo necessários para uma mudança mensurável – entre Cúpulas, não entre gerações.”

O relatório alerta que a África continua a perder quase 90 mil milhões de dólares anualmente devido a fluxos financeiros ilícitos, enquanto sectores críticos permanecem sub-financiados. Paul Walter apela, por isso, a uma melhor mobilização de recursos internos e à reforma dos sistemas financeiros internacionais, para que as economias possam investir nos seus próprios termos e tornarem-se mais resilientes, incluindo plena utilização de instrumentos existentes, como fundos soberanos e fundos de pensões, que segundo fez saber, detêm em conjunto mais de 330 mil milhões de dólares em activos e representam a maior fonte de capital investível em África.

A saúde é apresentada como um teste decisivo deste novo modelo de parceria. O relatório aponta para progressos em que as parcerias para a produção de vacinas estão a construir resiliência regional e descreve o investimento conjunto adicional em investigação e capacitação da força de trabalho como um investimento na segurança e preparação mútuas. Todos estes aspectos são vitais para criar valor duradouro e prevenir futuras pandemias, beneficiando as aspirações da África e da Europa à autonomia estratégica.

A mesma lógica aplica-se às parcerias energéticas e industriais. A África recebe menos de 3% do investimento global em energias renováveis, apesar de deter mais de 60% do melhor potencial solar do mundo. As iniciativas conjuntas demonstram como as infraestruturas partilhadas podem acelerar a industrialização de África, apoiando simultaneamente a transição climática e a diversificação energética da Europa.

“Juntos, África e Europa podem ajudar a construir a Economia Verde Global, com a expansão da Iniciativa de Energia Verde África-Europa como uma das mudanças positivas mais ilustrativas na conciliação da relação entre clima e desenvolvimento. O relatório também destaca o potencial inexplorado da economia azul, descrevendo os oceanos como uma fronteira comum para a prosperidade”, refere o documento.

Aproveitar o “Roteiro Oceânico África-Europa” como um plano operacional para acções conjuntas em governança oceânica, compartilhamento de capacidades, financiamento e investimento pode apoiar uma economia oceânica sustentável que beneficie ambos os continentes.

Em meio ao crescente isolacionismo e a um sistema multilateral fragilizado, o relatório convoca África e Europa a avançarem juntas como uma força estabilizadora e uma artéria cultural e económica aberta – uma parceria que fortalece a cooperação internacional, impulsiona o investimento a longo prazo e oferece uma resposta conjunta a desafios comuns. A recente cooperação e liderança conjunta entre a UA e a UE no Pacto para o Futuro, no Acordo sobre a Pandemia e na Governança dos Oceanos oferecem lições valiosas e impulsionam o trabalho conjunto para promover reformas na governança global e criar uma visão compartilhada de longo prazo para o futuro da ordem multilateral.

A Fundação África-Europa conclui que chegou a hora de a parceria passar do diálogo para resultados demonstráveis. Defende a criação de um mecanismo permanente de grupos de reflexão entre a UA e a UE para apoiar o progresso e facilitar a implementação entre as Cimeiras.

Ao comentar o relatório, o cofundador da Fundação África-Europa e presidente da Fundação Mo Ibrahim, afirmou que o relatório fornece um plano operacional para um novo pacto financeiro que vai decisivamente além da ajuda humanitária, focando na co-criação, compartilhamento de riscos, geração de valor e comercialização de recursos.

“Isso significa priorizar um financiamento mais inteligente, e não apenas mais dinheiro, adaptando os instrumentos financeiros, simplificando os processos de financiamento e avaliando o progresso não apenas no anúncio de compromissos financeiros, mas sim no impacto e no benefício directo para nossas sociedades”, referiu.

Por sua vez, CEO da AUDA-NEPAD, Nardos Bekele-Thomas, acrescentou que “num momento de mudanças globais, a África e a Europa precisam despertar e perceber que a nossa solidariedade é mais necessária do que nunca para alcançarmos resultados para as nossas comunidades. Para isso, devemos olhar além dos ganhos a curto prazo e focar numa transformação a longo prazo, convertendo os compromissos em acções concretas. Este é o ADN da nossa parceria com a Fundação África-Europa e orienta o nosso acompanhamento da 7ª Cimeira UA-EU”.

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