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“A UNITA transformou-se [e tem] outra visão, que se chama oposição construtiva” – diz embaixador russo

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Depois do braço de ferro registado entre o ‘galo negro’ e a Embaixada da Rússia em Angola em 2022 por conta da invasão daquele país contra a Ucrânia, altos quadros do maior partido na oposição protagonizaram algo inédito que fica para história e demonstra mudança de perspectiva política: participaram pela primeira vez desde o fim da guerra fria das comemorações do Dia Nacional da Rússia, celebrado na noite dessa quarta-feira, 12, na Embaixada daquela Federação, no Miramar, Luanda.

“A UNITA transformou-se muito, é uma UNITA com outra visão que se chama de oposição construtiva”. A afirmação é do embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, feita à Lusa, à margem das comemorações do Dia da Rússia, celebrado ontem, dia 12.

A Federação russa adoptou o dia 12 de Junho como o seu dia nacional, a 25 de Dezembro de 1991, após o fim da União das República Soviéticas Socialistas (URSS). Desde a data, suas representações diplomáticas têm realizado celebrações em que são convidados os governos dos países acolhedores e partidos amigos.

Em Angola, por exemplo, a UNITA, maior partido na oposição, nunca participou nestas celebrações, tendo em conta o antagonismo não só ideológico, mas também de perspectivas e objectivos políticos extremamente divergentes com a Rússia, a Federação que, ao longo dos quase 50 anos de independência de Angola, apoiou o MPLA contra o partido fundado por Jonas Savimbi, militar e politicamente.

Entretanto, de forma inédita, altos quadros da UNITA acabaram por aceder ao convite e participaram das festividades do Dia da Rússia celebrada ontem na Embaixada do país, sita no Miramar, em Luanda.

Em reacção ao facto, o embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, tomou boa nota, e considerou-o como um “sinal de uma verdadeira reconciliação nacional”.

“Se Angola pensa que esse movimento, ou esse partido da oposição pode contribuir para o desenvolvimento num quadro de reconciliação nacional, porque temos de rejeitar isso? Temos de contactar com cada força, a UNITA transformou-se muito, é uma UNITA com outra visão que se chama de oposição construtiva”, sublinhou o diplomata, numa clara alusão de mudança de paradigma.

De referir que em Março de 2022, um mês após a Rússia ter iniciado sua invasão contra a sua vizinha Ucrânia, a Embaixada russa em Angola, na pessoa de seu embaixador Tararov, travou uma batalha de retórica pouco diplomática com a UNITA.

O partido liderado por Adalberto Costa Júnior propôs à Assembleia Nacional a aprovação de um “voto de protesto” contra a invasão da Rússia, mas a iniciativa acabou por ser barrada pelo lado do maioritário, velho aliado do Kremlin.

Na nota, a UNITA sublinhara que a Assembleia Nacional devia “repudiar e condenar a invasão da República da Ucrânia e as violações aos compromissos internacionais sobre a defesa, promoção da paz e segurança internacional”, bem como “condenar a invasão à República da Ucrânia, estado soberano e independente, pelas forças armadas da Federação russa em violação à integridade territorial, ao direito à autodeterminação e livre escolha de alianças”.

Em reacção, Vladimir Tararov teceu fortes críticas ao ‘galo negro’, considerando-o ignorante.

“A UNITA apresenta um projecto de condenação contra a guerra da Rússia! Ela fala o que não sabe. A UNITA quer mostrar que está com o Ocidente, os ditos países civilizados, e não é que ela [UNITA] seja civilizada. O que a UNITA está a fazer é chantagem, porque quer obter vantagens no quadro das eleições, mas não é assim que se faz”, sublinhara o diplomata visivelmente irritado.

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