Crônica

A tradição da quadra festiva como ilusão moral: entre o ritual social e a hipocrisia cotidiana

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A repetição anual da expressão “Feliz Natal e Próspero Ano Novo” revela mais do que um simples hábito linguístico, ela denuncia a fragilidade moral de uma sociedade que prefere o conforto da tradição à exigência do pensamento crítico. Um sintoma de alienação ética colectiva, na qual palavras elevadas substituem acções concretas, e símbolos sagrados são esvaziados de significado.

Toda tradição que não se submete à reflexão torna-se um instrumento de acomodação social. Nesse sentido, o Natal deixa de ser um momento de introspecção espiritual e converte-se em um evento passageiro, limitado ao calendário e não à consciência. A evocação do nascimento de Jesus Cristo, figura central de valores como justiça, humildade e amor ao próximo, não ultrapassa o instante festivo. No dia seguinte, o esquecimento se instala, revelando que a celebração não produziu transformação interior. Celebrar sem internalizar é apenas encenar virtudes que não se pretende viver.

A expressão carrega, em aparência, uma intenção benevolente, mas na prática se dissolve rapidamente. A prosperidade desejada não se converte em compromisso com a dignidade do outro, tampouco em responsabilidade social. 

Desejar o bem sem agir para que ele se concretize é uma forma sofisticada de indiferença moral. Trata-se de um altruísmo performativo, que satisfaz a consciência momentaneamente, mas não altera as estruturas de egoísmo e distanciamento humano.

A crítica central, portanto, não se dirige às palavras em si, mas ao vazio que as sustenta. A sociedade mantém essas fórmulas porque elas garantem pertencimento social, não porque expressem verdade. A tradição que se repete sem consciência transforma-se em mentira colectiva, pois normaliza a incoerência entre discurso e prática. Assim, a hipocrisia não é um desvio isolado, mas um comportamento institucionalizado, aceite e reproduzido ano após ano.

Persistir na chamada tradição é, portanto, aceitar uma moral de superfície, onde gestos simbólicos substituem transformações reais. O verdadeiro desafio, não está em abandonar os votos festivos, mas em resgatá-los de sua banalização. Um Natal feliz exigiria a vivência contínua dos valores que ele simboliza; um Ano Novo próspero demandaria acções que promovam justiça, solidariedade e responsabilidade colectiva ao longo de todo o ano.

Em última instância, a crítica não é contra o Natal nem contra o Ano Novo, mas contra a falsidade confortável que os envolve. Não é a ausência de tradição que empobrece a humanidade, mas a presença de tradições vazias. Somente quando a palavra reencontrar a acção, e o símbolo recuperar seu sentido, essas expressões deixarão de ser rituais mortos e poderão, enfim, tornar-se verdades vivas.

“FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO” é uma frase que nasce em Dezembro e morre nos primeiros dias de Janeiro. Uma frase que todos aprenderam a desejar aos demais, sem sentirem o real significado da frase.

Um “FELIZ NATAL” para lembrar a Jesus Cristo. Que logo no dia 26 é esquecido completamente com a ressaca, como se nunca comemoramos a data do seu nascimento.

Um “PRÓSPERO ANO NOVO” para desejar aos demais, e que depois do dia 1 de Janeiro já não queremos saber mais nada dessa gente que desejamos que o seu ano seja próspero.

Enfim, seguimos com tanta hipocrisia e falsidade. Mas de todos modos, continuaremos com a tradição da tradição e desejaremos sempre a todos os nossos familiares e amigos um FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.

Por: Adão Xirimbimbi “AGX”
Jurista e Investigador

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