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Opinião

 A segurança da informação digital: modelos globais e a realidade de Angola

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A revolução digital trouxe consigo transformações profundas nos mais diversos sectores da sociedade, promovendo avanços tecnológicos significativos. No entanto, essa evolução também gerou desafios complexos, sobretudo no que diz respeito à segurança da informação. Hoje, governos, empresas e cidadãos lidam com ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas, que vão desde ataques de ransomware e espionagem digital até a manipulação de informações e roubo de dados pessoais.

Diante desse cenário, países ao redor do mundo têm desenvolvido estratégias para proteger as suas infra-estruturas críticas, regulamentar o uso de dados e fortalecer a resiliência cibernética. Enquanto algumas nações apostam na soberania digital e no controlo estatal, outras enfatizam a colaboração internacional e a inovação tecnológica como principais meios de garantir a segurança digital.

Angola, por sua vez, encontra-se num momento de transição digital, com oportunidades e desafios que exigem uma abordagem estratégica e integrada. Embora o país tenha avançado na modernização dos serviços públicos e na digitalização de diversos sectores, a segurança da informação ainda é um tema que precisa de maior atenção, sobretudo no que diz respeito à regulamentação, à consciencialização e à infra-estrutura.

Este artigo analisa os diferentes modelos globais de segurança da informação digital, explorando as abordagens adoptadas por países como Estados Unidos, União Europeia, China, Israel e Brasil. Em seguida, discute a realidade angolana e propõe caminhos para fortalecer a cibersegurança no país.

1. Modelos Globais de Segurança da Informação Digital

Cada país estrutura a sua política de segurança da informação conforme as suas necessidades estratégicas, prioridades económicas e contexto político. Como afirma Stallings (2020), “a segurança da informação deve ser vista como um processo dinâmico e contínuo, pois as ameaças evoluem constantemente e exigem adaptação”. Assim, as nações desenvolvem os seus modelos de cibersegurança com base em diferentes enfoques, que vão desde a defesa activa até à regulação rígida do uso da Internet.

1.1. Modelo dos Estados Unidos: Resiliência e Defesa Activa

Os Estados Unidos adoptam uma abordagem baseada na resiliência cibernética e na defesa activa, combinando cooperação público-privada, resposta rápida a ataques e desenvolvimento de tecnologias avançadas de protecção. Um dos pilares dessa estratégia é o NIST Cybersecurity Framework, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), que fornece directrizes para que empresas e órgãos governamentais possam gerir riscos cibernéticos de forma eficaz.

Além disso, os EUA investem pesadamente na segurança das infra-estruturas críticas, como sistemas de energia, transportes, saúde e comunicações. Para reforçar a defesa digital, o país criou o US Cyber Command (USCYBERCOM), um comando militar especializado em cibersegurança, espionagem e operações ofensivas no ciberespaço.

Como ressalta Whitman e Mattord (2021), “o modelo norte-americano de cibersegurança destaca-se pela ênfase na inovação tecnológica e na rápida resposta a incidentes, buscando mitigar ameaças antes que causem danos significativos”.

1.2. Modelo da União Europeia: Privacidade e Regulação Rigorosa

A União Europeia (UE) segue um modelo mais focado na protecção da privacidade e na regulamentação do uso de dados. O Regulamento Geral de Protecção de Dados (GDPR), implementado em 2018, tornou-se uma referência global ao estabelecer directrizes rígidas para o tratamento de informações pessoais. Esse regulamento impõe multas severas para empresas que violarem as regras de protecção de dados, incentivando a transparência e a segurança digital.

Outra iniciativa importante da UE é a Directiva NIS2 (Network and Information Security Directive), que obriga empresas e governos a adoptarem padrões de segurança cibernética mais elevados. Conforme aponta Earle e Madnick (2022), “a União Europeia prioriza um equilíbrio entre inovação e protecção dos direitos digitais, garantindo que a tecnologia seja usada de forma ética e segura”.

1.3. Modelo da China: Soberania Digital e Controlo Estatal

A China adopta um modelo fortemente centralizado, baseado na soberania digital e no controlo estatal da Internet. O governo chinês estabeleceu um conjunto de leis rigorosas para regular o fluxo de informações digitais, incluindo a Lei de Segurança Cibernética da China (2017), que exige que todas as empresas armazenem dados dentro do território nacional.

Um dos mecanismos mais emblemáticos desse modelo é a Grande Firewall da China, um sistema de censura digital que restringe o acesso a sites estrangeiros e regula o tráfego de Internet no país. Segundo Creemers (2019), “a estratégia chinesa busca consolidar sua independência digital ao limitar a influência de empresas estrangeiras e reforçar o monitoramento do ciberespaço nacional”.

2. A Realidade de Angola e os Desafios da Segurança Digital

Angola encontra-se num estágio inicial na construção de uma estratégia nacional robusta de segurança da informação. Embora tenha avançado na digitalização de serviços públicos e na implementação de infra-estruturas de telecomunicações, o país ainda enfrenta desafios significativos:

1. Ausência de uma legislação abrangente de protecção de dados, essencial para garantir segurança jurídica e proteger os cidadãos contra abusos.

2. Baixo nível de consciencialização sobre cibersegurança, resultando em vulnerabilidades para indivíduos e empresas.

3. Dependência de infra-estrutura estrangeira, tornando o país susceptível a interferências externas.

3. Caminhos para Fortalecer a Segurança Digital em Angola

Para que Angola possa avançar na segurança da informação digital, é fundamental que o governo e o sector privado implementem medidas estratégicas:

1. Criação de uma Lei de Protecção de Dados, alinhada a padrões internacionais como o GDPR europeu.

2. Investimento na capacitação de profissionais de cibersegurança, fortalecendo universidades e programas de formação especializada.

3. Promoção de uma cultura de cibersegurança, sensibilizando empresas e cidadãos sobre os riscos digitais.

4. Desenvolvimento de infra-estrutura digital nacional, reduzindo a dependência de servidores estrangeiros e fortalecendo a soberania digital.

Finalmente, é essencial referir que a segurança da informação digital tornou-se um elemento essencial para a soberania e o desenvolvimento sustentável das nações. No actual cenário global, onde ataques cibernéticos são cada vez mais sofisticados e as informações digitais representam um dos activos mais valiosos, os países precisam de adoptar estratégias robustas para proteger a sua infra-estrutura digital, os seus cidadãos e as suas instituições.

Angola precisa de adoptar uma abordagem estratégica para fortalecer a sua segurança digital, investindo em infra-estrutura, regulamentação, capacitação profissional e cooperação internacional. A criação de uma Lei de Protecção de Dados, o fortalecimento da capacidade técnica, a promoção de uma cultura de cibersegurança e a independência tecnológica são passos fundamentais.

Garantir a segurança da informação digital em Angola não é apenas uma questão técnica, mas uma necessidade estratégica para o desenvolvimento económico, a protecção dos cidadãos e a preservação da soberania nacional.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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