Opinião
A reconstrução da reputação institucional: o caso Ministério das Finanças de Angola
A reputação institucional é um dos activos mais valiosos de qualquer organização, especialmente quando se trata de instituições públicas responsáveis pela gestão de recursos financeiros. Como bem ressalta Fombrun (1996), “a reputação é um reflexo das acções passadas e uma previsão das acções futuras de uma organização”. No caso das Finanças Públicas de Angola, recentemente abaladas pelo escândalo financeiro no âmbito do “caso AGT”, a necessidade de recuperar a confiança da sociedade torna-se imperativa.
A Importância da Reputação Institucional
A confiança nas instituições não se constrói apenas por meio de discursos bem articulados, mas sim através de acções concretas e sustentáveis ao longo do tempo. Porter e Kramer (2011) destacam que a legitimidade institucional é fundamental para o desenvolvimento económico e social de qualquer nação. A Ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, demonstrou compreender essa realidade ao enfatizar que a recuperação da reputação do sector financeiro não pode ser feita por decreto, mas sim através do rigor, da ética e da transparência na gestão pública.
O impacto de um escândalo financeiro não se restringe apenas à credibilidade da instituição envolvida. Ele reverbera sobre toda a administração pública, afectando a percepção dos cidadãos quanto à seriedade do governo no combate à corrupção. Segundo Shleifer e Vishny (1993), a corrupção prejudica a eficiência económica, distorcendo os incentivos e minando a confiança nas instituições. Assim, o desafio da recuperação reputacional não se restringe a um sector específico, mas deve ser uma prioridade de toda a estrutura governativa.
Estratégias para a Recuperação da Reputação Institucional
A reconstrução da reputação de uma instituição pública requer um plano estratégico bem definido, que abranja aspectos técnicos, éticos e comunicacionais. Nesse sentido, algumas medidas fundamentais podem ser destacadas:
1. Reforço da Transparência e Prestação de Contas
A transparência é um dos pilares centrais para recuperar a confiança do público. Conforme argumenta Hood (2010), governos que adoptam práticas transparentes reduzem os riscos de corrupção e aumentam a eficiência administrativa. Medidas como auditorias independentes, publicação de relatórios financeiros detalhados e mecanismos de participação cidadã são essenciais para restaurar a credibilidade institucional.
2. Revisão e Aprimoramento dos Processos Internos
Para evitar que casos de má gestão e desvio de recursos voltem a ocorrer, é necessário aprimorar os processos e procedimentos internos. Como destaca Osborne (2010), a governança pública eficaz deve estar alinhada a padrões rigorosos de compliance e controlo interno. A implementação de sistemas robustos de fiscalização e a adopção de tecnologia para monitoramento contínuo das finanças públicas podem minimizar riscos de fraudes e desvios.
3. Fortalecimento da Cultura Institucional Ética
Nenhuma medida técnica será eficaz se não houver um compromisso genuíno dos servidores públicos com a ética e a integridade. De acordo com Treviño, Weaver e Reynolds (2006), as instituições devem promover uma cultura organizacional que valorize a conduta ética, estabelecendo códigos de ética claros, programas de capacitação contínuos e mecanismos de denúncia seguros.
4. Comunicação Transparente e Proactiva
A forma como as instituições lidam com crises reputacionais influencia directamente na percepção pública. Coombs (2007) defende que a comunicação de crise deve ser transparente, rápida e baseada em factos verificáveis. É essencial que a liderança institucional assuma a responsabilidade pelos erros, demonstre compromisso com a correcção das falhas e mantenha a sociedade informada sobre as acções em curso para fortalecer a credibilidade do sector público.
Reflexão Final
A recuperação da reputação institucional não é um processo instantâneo, mas sim uma construção contínua baseada em boas práticas de governança, transparência e compromisso ético. O caso do Ministério das Finanças de Angola ilustra a necessidade de acções concretas para restaurar a confiança pública e prevenir novos episódios de má gestão.
A ministra Vera Daves de Sousa acertadamente destacou que a confiança não se reconstrói apenas com palavras, mas sim com trabalho sério e acções consistentes. Seguir esse princípio não deve ser apenas um compromisso do sector financeiro, mas de toda a administração pública. Afinal, como bem pontuou Francis Fukuyama (2011), “a governança eficaz depende da construção de instituições fortes, com normas bem definidas e mecanismos de prestação de contas”.
A transparência, o rigor na gestão e o fortalecimento da cultura ética não podem ser tratados como excepções, mas sim como normas fundamentais para a construção de um Estado eficaz e confiável. Que este episódio sirva como um ponto de viragem para consolidar uma nova era de governança pública em Angola.