Opinião
A política inocente no jogo jogado
Você entra, bem disposto, num campeonato de primeira divisão, por sinal a sua primeira participação, como alguém que vai orientar uma equipa que luta pelo título, há vários anos e os seus adeptos estão sedentos de golos, “dribles” e, no final, querem o primeiro lugar, que daria o cobiçado trofeu!
Logo no começo você entra com tudo. Sem valorar a tradição do desportivo. Entras mesmo a matar.
Corrompe jornalistas desportivos, compra órgãos de comunicação social, fortes na matéria, fala com os árbitros, diz que tens dinheiro até para comprar novas casas para eles…
Compra claques inteiras, até as que apoiavam o clube rival, declara, nas entrelinhas, guerra contra a Direcção do clube mais titulado do campeonato, declara guerra contra o conselho de árbitros, cria parcerias com os melhores patrocinadores do futebol mundial, recebe fundos e mundos para ganhar o campeonato, diz que “fair play” não é mais para a equipa do seu tempo, pois é uma conversa palaciana…
Diz ainda que não precisa estabelecer relações nenhumas com ninguém, porque está confiante com o seu jogo.
Consegue apoios vindos de adeptos de “luxo” da equipa adversária cujas provas destes apoios exibes aqui e acolá.
Consegue “putos” apanha bola que, na hora dos lances perdidos, eles fazem perder todo o tempo, a favor de si.
Consegue, também, uns adeptos cuja função é atirar areia camufladamente nos olhos dos atletas adversários, tudo para vencer ao jogo…
Tudo isto não passa na imprensa desportiva, porque antes do jogo jogado você comprou alguns órgãos e pagou os melhores jornalistas desportivos.
Em pouco tempo, mesmo sem ganhar ainda nenhuma taça, não construir um estádio, posto médico, centro de estágio, nem mesmo novos sócios inscritos e já com quotas pagas, você sente-se o melhor gestor desportivo, o mais titulado e que, por isto, não precisa de ninguém e de mais nada.
Para o pior do desporto, entende financiar uns grupos cuja missão é apedrejar os autocarro, centro de estágio da equipa adversária, incluindo a sua claque…
Aquela equipa passa a ser, no olho de todos, a pior do campeonato e todos os adeptos já não querem ver em campo.
Com a ajuda dos seus “comprados” a tese quase que pega, todos contra a equipa e a opinião pública quase que se convence de que o melhor dirigente desportivo é você…
Mas como o campeonato não termina na primeira volta e antes da segunda volta do campeonato arrancar, a equipa mais titulada percebe tudo. Entra no cenário, cheira o aroma e abre o olho do rei Julião.
Recebe às facturas, os computadores, registos telefónicos, jantares pagos, telefonemas feitos, carros oferecidos, jornalistas comprados, órgãos de comunicação social adquiridos, árbitros na jogada, jogadores da equipa adversária pagos e uma opinião pública , já óca, formatada a seu gosto.
Como o objectivo é o primeiro lugar do campeonato e faltando muitas jornadas por disputar, a equipa fragilizada entende investir na desconstrução de todo o processo montado contra si.
Entra na jogada de relações “not”. Declara, de igual modo, guerra entre as equipas.
Desvenda segredos, começa a recuperar os atletas perdidos, dá o troco na medida do possível. Fala com os árbitros não pagos para repor às regras do jogo.
Na primeira jornada da segunda volta dá-se conta que o melhor gestor desportivo nem as credenciais dos atletas tinha depositado na federação, e ali começam as “makas”.
Com mais ou menos apertos, o cenário muda…deixa de ser o tal e passa à vítima, prosseguido e a imprensa e seus actores competentemente pagos e comprados passam a não prestar.
As brigadas de areia, apedreja e ataca, perdem a rede…todos começam a sonhar mal…
uns assustam de noite e correm pelos becos gritando pelo nome dos jogadores adversários, como se de Mputo Maby se tratasse… nada disso!
É o puro advento…
tudo volta à selva e com isto, todos são chamados como se estivessem ao serviço daquele.
Polícias, guardas do armazém, professores, administradores passam, no entender dos “mutchatchos”, a fazer parte da claque da equipa adversária e, para tal, a todos servem xinguilamentos.
As dores menstruais provocadas pelas pilulas do dia seguinte sobem de odor e tom.
Panos congo no mercado informal “umaram”, porque aumentaram as cinturas disponíveis para o salta do tchianda, uma dança típica aos kota e manos kokwe.
Enfim, o feitiço virou contra o feiticeiro, mas antes do resultado da última jornada e, mesmo que pouco, o leite derramado já gasta o precioso líquido.
Caso para dizer que, no desporto quando se vai com raiva, ansiedade exacerbada, ou mesmo com o espírito de vale o que quero e não o que todos querem, a maratona pode não terminar.
O campeonato pode não terminar, ou se terminar será da pior maneira.
Desporto é cálculo, inteligência, humanismo e controlo pelos passos que se vão dando, sob pena de ser ultrapassado pelo último classificado da primeira volta.
Atenção ao ditado do cágado e lagarto…
Um correu muito e foi ultrapassado pelo lento!
Esta é a Política do inocente que, ou não termina o campeonato ou termina, mas muito mal, no entender do vosso fiel servidor,
Vasco da gama – Jornalista