Editorial
A petulância imensurável da IGAE num contexto incompreendido
A parte final da semana finda ficou maculada com o incidente que opõe a direcção da Rádio Eclésia e os jornalistas, Salgueiro Vicente e José de Belém, ambos suspensos pelo seu director, Padre Maurício Kamuto, por divulgarem, alegadamente, uma reportagem que denuncia um suposto esquema de corrupção engendrado pela IGAE, aquando do concurso público de provimento de vagas.
Até ali não vemos problemas correlativos à IGAE, pois, a suspensão, rigorosamente falando, não dependia deste órgão, considerando inevitavelmente, a separação de poderes e competências entre a eclésia e a Inspecção-Geral.
O problema, em nossa opinião e que ganha contornos forasteiros, quanto ao âmbito da IGAE, é o facto de este serviço público ter adoptado uma postura, em comunicado, intimidatória, arrogante e despropositada, contra humildes jornalistas (certamente representando órgãos concretos e determinados).
Fazendo um pouco de revisão temática para situar os nossos fieis leitores, refira-se que em nota enviada a alguns órgãos, como é nosso caso, a IGAE, desprovido de qualquer noção da realidade sociopolítica hodierna, imbuído de uma arrogância desmesurada, como se de um quartel militar e para militares se tratasse (possivelmente por ter um director e muitos colabores formatados na arrogância endémica desta natureza), órgão de origem de quase todos eles, claudicou, consideravelmente, pensando que se estava a dirigir a funcionários de base, nomeadamente a empregados de mesa, de limpeza, a guarda-costas que indevidamente emparelha e dos seguranças do seu edifício!
A IGAE, impingida ao abismo amiúde por uma assessoria de imprensa que carece de cuidados intensivos, não muito desfasados das que se oferece a qualquer paciente necessitado, no hospital do Bungo, no Uíge, por exemplo, dá-se ao luxo lastimoso de anunciar processos-crime contra jornalistas que, na verdade, nada mais fizeram do que exercer o seu direito constitucional de informar e por conseguinte participar da materialização do direito, também constitucional, dos cidadãos, de serem, literalmente, informados.
Mais, a IGAE, no escuro das reacções típicas a gente com rei na barriga, como se diz num ditado popular da nossa gente provinciana, fala do suposto crime de calúnia, mas não responde, em momento algum, o problema inicial.
E não o faz porque decide, na mais pura desafectação perder tempo e com ele a soberana oportunidade de comunicar, esclarecer bem o sucedido o que, por si só, ofusca a sua já débil imagem – que nos parece mais grave do que o alinhamento em mesquinhas de corrupção de enfermeiros quando nos cofres milionários o rombo continua e os seus autores exibindo luxo paradoxal.
Perde tempo com o periférico, com as questões prévias quando, efectivamente o que a sociedade quer saber não explicou ainda. Ou seja, se o concurso foi ou não feito com a lisura que se exige, hoje.
Não disse se os dois jovens que foram à eclésia contactar os jornalistas ora tratados como detratores da IGAE e agora suspensos falaram inverdades. Se podem ou não dar mais dados sobre o que disseram, em entrevista e gravada, entorno do esquema que, há anos mora naquele serviço público que, diga-se, continua nas masmorras do aroma político circunstancial.
Os importunos que a IGAE coloca ao serviço jornalismo, que também é público, acoberto dos mesmos valores, em sede do seu comunicado, demonstra claramente que a sua direcção desconhece a relevância, persistência e o espirito heroico dos jornalistas angolanos, essencialmente!
Demonstra, ainda, que desconhece a capacidade de luta dos mesmos que nos áureos da ditadura da pedra e ensanguentada, Ricardo de Melo, Alberto Chacussanga, a título de exemplo, morreram no gozo dos seus plenos direitos mas a fila jornalística continuou a desempenhar a sua nobre missão que, lamentavelmente, hoje lhe é ingrata por informar uma verdade que desperta a leviandade do dirigismo daquele serviço.
Demonstra, finalmente, que um processo-crime, uma acção indemnizatória, mesmo que milionária não e nunca inibirá os jornalistas a fazerem o que, muito bem, sabem. Aliás, só esta postura justifica o facto de o jornalista com mais processos-crime do mundo, aos cem hoje, Willian Tonet, esteja em Luanda, às barbas dos seus eternos algozes fazendo jornalismo e com a mesma verticalidade que começou aquando das coberturas na guerrilha sanguinária dos nossos tempos.
Dito isto, nada mais resta para que a IGAE perceba, definitivamente, que ameaças, em papel, aos telefonemas não são mais profundos, chocantes e horrorosos do que balas enfiadas às costas de jornalistas em voga mas que os seus companheiros continuam e continuarão a fazer o seu trabalho que é de informar com verdade, rigor e isenção, mesmo com A PETULÂNCIA IMENSURÁVEL DA IGAE NUM CONTEXTO INCOMPREENDIO!