Educação Financeira
A Morte e as Finanças de mãos dadas
Pensar na própria morte ou na partida de parentes próximos pode ser doloroso. Porém, quando se trata de planeamento financeiro, até esse tema delicado deve ser levado em consideração. Quase ninguém gosta de falar sobre isso, mas a morte é a única certeza na vida. Sendo algo inevitável, é preciso se planear. Ninguém quer pensar nisso. É um assunto difícil de ser falado, mas necessário para que as pessoas próximas não sofram tanto quanto elas já vão sofrer com a sua ausência.
Preço do funeral e outros
Caixão, flores, serviço funerário, sepultamento e velório. Tudo isso tem um custo. Em Luanda, por exemplo, é preciso pagar, no mínimo, uns 200.000 Kz pelo funeral completo. Mas os preços podem chegam a 1 milhão ou mais de Kwanzas, dependendo do tipo de caixão escolhido, enfeites florais, mesa de condolências, véu e velas.
As pessoas que ficam e que recebem a notícia geralmente não estão emocionalmente estruturadas e precisam cuidar de documentação, tratar do transporte e estadia do cadáver numa morgue o que implica pagamento de taxas. É preciso pensar quanto tem que guardar para esse momento. E esta é a questão, que na maior parte das vezes, só de pensar, ou quando se partilha este tipo de pensamento, as pessoas não aceitam muito bem.
E quem não tiver o dinheiro? Geralmente, e por cultura nacional, faz-se junto de familiares e amigos um «peditório» ou as condolências a solicitar uma ajuda financeira para pagamento do que envolve as custas do enterro. Para evitar este tipo de situação que é constrangedora, vamos falar um pouco de como ter condições financeiras para ajudar, inclusive, na recuperação psicológica dos entes queridos que ficam, pois, dívidas («kilapis»), não ajudam na fase de luto de ninguém.
A cultura nacional tem um conjunto de tradições, tais como as missas em alma do defunto, a missão do 7º dia, a festa do “Comba”, entre muitas outras, que tem a ver com a identidade de cada povo, mas todas têm a forma de se apresentar às visitas da família, com uma foto e velas da pessoa falecida, bancos, cadeiras e comida e bebidas. Para isto tudo é preciso dinheiro. Pelo que tenho presenciado, os funerais estão a ser rápidos, entre a morte e o enterro, em média entre 2 a 3 dias, o que no passado recente podia chegar facilmente ao dobro do tempo. Para isto também concorre as limitações de pessoas pelo Covid 19, mas a meu ver, pela carência financeira das famílias, que já com muita dificuldade conseguem custear este tipo de despesas de «comes e bebes» à porta de casa. Este ponto, é muito importante e tem um grande peso no custo final dos funerais.
Onde será o enterro
É uma questão pertinente. Actualmente, os enterros são feitos ainda em cemitérios públicos municipais. No futuro muito em breve, teremos outra forma de despedida dos nossos queridos, que será por cremação (o corpo é colocado num forno a gás, sendo o caixão um elemento preparado para este tipo de situação, sendo que no fim, a família pode ter acesso a um pote em que no seu interior terá pó cinzento, que são as cinzas dos ossos do defunto. E é tudo o que resto do corpo). Tenho a certeza, que num prazo de 5 anos, mais de metade dos funerais será por via da cremação, pois o custo é geralmente mais baixo, entre 20 a 40% do custo de um funeral convencional, isto é, enterro na terra.
Neste tipo de decisão, que muita e mais uma vez não é reflectida, não se tem em conta o «destino final» do corpo e os custos. Quanto mais distante a funerária levar o caixão com o corpo, mais caro fica. E sobre esta situação não tem a ver com o transporte aéreo de um país para outro, mas dentro do próprio país e províncias, como é o caso de Angola. Por exemplo, se o morto vier de outro país, além de custos com a autópsia, a urna é chumbada (a urna é forrada com zinco) e pagamento de taxas e o custo do transporte por via aérea é um valor muito alto. Além disso, os mortos por Covid 19 têm também um tratamento diferenciado, pelo que os familiares devem estar disponíveis para tomar a melhor decisão, que seja a do vontade do malogrado e da família, sem com isso, as finanças fiquem «depenadas» post-mortem do defunto.
Manutenção do cemitério
Por via do rendimento das famílias, também a cultura nacional é de enterrar os seus mortos em sepulturas dentro da terra. Quando contrata uma funerária, veja os custos sob a forma de taxas para abrirem o «buraco» (sepultura) e sua manutenção, caso esteja previsto. Passado um ano, mais ou menos, deve ter em conta a estabilização da sepultura, pelo que muitas famílias mandam colocar cimento em volta, as que têm menos recursos, para as mais abastadas, mandam colocar, por exemplo, pedras mármores e fotos dos entes queridos, embelezando a sepultura. Além disso, e não é só no dia 2 de Novembro, as famílias recorrem à compra de flores naturais ou de plástico, o que deve ter em conta sempre este tipo de simbolismos. Os que optarem por comprar um jazigo também devem deixar uma reserva para a manutenção do jazigo, já que os familiares podem não estar preparados para esse gasto extra. “Essa manutenção acontece antes da morte e depois dela. É quase eterno. Por isso, há essa necessidade de ter uma reserva.”
Testamento e seguro de vida
Para evitar discussões nas partilhas da herança, se tiver bens, o ideal é já deixar determinado o que cada um vai receber. “Se quer deixar aos seus filhos em uma situação tranquila, vale a pena pensar em ter um testamento para não fomentar briga por partilha. É importante pensar também em fazer um seguro de vida para deixar um dinheiro extra para quem fica. Em Angola e há vários anos, as seguradores têm no seu portefólio, seguros de vida. Também são para este tipo de situações. “Se não conseguiu fazer uma reserva financeira, é melhor fazer um seguro. Quem tem filho pequeno, por exemplo, se partir amanhã e não tiver nenhuma reserva, o filho está fica numa situação de carência. Deixar isso conversado e acertado facilita a vida dos familiares que ficam.
10 conselhos úteis
1- Por via da corrupção que existe entre funerárias e hospitais e clínicas, procure preços dos serviços funerários antes de aceitar qualquer proposta que lhe apareça sem saber de onde…
2- De acordo com o orçamento que melhor serve os interesses da família, veja e some todas as parcelas das propostas e peça «desconto».
3- As pessoas mais velhas e com legitimidade devem estar na linha da frente quanto à realização do velório, missas, comida e bebidas a oferecer a quem for a casa da família enlutada.
4- Que tudo seja digno da pessoa que morreu. Por mais que não fale e se exprima, o morto, merece dignidade, incluindo na hora da morte e do seu enterro.
5- Evitar desavenças entre a família por bens materiais. Como sempre tenho escrito, o diálogo e o bom senso resolvem muitos problemas.
6- A esperança do reencontro com quem desapareceu fisicamente não é só até à festa do “Comba” (30 dias após a morte), porque, considero que as pessoas só morrem quando as esquecemos, e isso acontece em vida também.
7- E fase do luto é dos momentos mais difíceis da vida. Quando falamos da morte dos pais e, principalmente, de filhos que vão antes dos pais, é uma forma de morrer «prematuramente» dos que ficam. Não deve haver maior dor do que perder filhos. Apoie-se nas pessoas mais próximas e que o(a) amam. É fácil cair na depressão e querer morrer também. Viva e viva em plenitude.
8- Pense que todos morremos. Tenha essa consciência todos os dias. Somos «pele» e «ossos» e nada valemos. Evite a inveja, o ciúme, o ódio, o rancor, pois de nada nos vale.
9- Diz Jesus que não vale a pena procurar os vivos entre os mortos. (Lucas em 24-5). Visitar os que nos deixaram é uma homenagem que devemos fazer e se acha que faz-lhe bem, converse e ore sempre.
10- Ame os que estão vivos. Ame aos que estão consigo na Terra, antes que nos tornemos pó, do pó de onde viemos. Ame e faça bem ao seu Próximo.
Professor Daniel Sapateiro
Economista e Docente Universitário