Opinião
A Magia controversa do Ano Novo
Crônica de Edson Kassanga
Os dias próximos à transição de anos constituem uma fase em que os limites que apartam o ontem do hoje e o hoje do amanhã se tornam muito diminutos, porquanto, mais do que em outras etapas do ano, prestamos maior tempo e atenção analisando a nossa vida nos mais multiformes aspectos e períodos. É nesta época em que significativa parte de nós manifesta assimétricos sentimentos de modos um tanto quanto extremos, originado um ambiente bastante caótico, contudo fecundo para quem tem a inspiração como materia prima para o seu trabalho e/ou paixão.
O Natal e a passagem de anos são efemérides representantes de enorme simbolismo por fazerem soprar ventos que suscitam um impacto ímpar na vida de quase todas as pessoas. Infelizmente, somente neste período, cresce a preocupação por questões tão fundamentais para qualquer ser humano, nomeadamente a familia, o trabalho, a relação com Deus, com os amigos, com os vizinhos e até a relação com os inimigos, enfim questões sobre as quais cada um procura refletir, questões que cada um faz questão de dar acção com o fito de pisar o chão do outro lado da ponte com o pé direito, deixando à mostra a crença segundo a qual a forma como se dá inicio um ano novo determina o modo como o mesmo vai decorrer. Daí que muita gente opta por transitar de anos vestindo roupas brancas.
Para além destas manifestações de sentimentos saudáveis nos quais o perdão e a esperança tomam a dianteira, na época festiva regista-se uma expectativa surpreendente que leva a que muitos excedam naquilo que diz respeito-embora geralmente sem respeito- às quantidades e às maneiras de aquisição de bens materiais necessários e não para as celebrações. É a ocasião em que a procura pelos produtos explode devido à pressa, nem sempre necessária, que a população demostra em comprar bens e pagar serviços a qualquer custo, facto que não deixa os comerciantes indiferentes. Por sua vez, estes tiram proveito da situação apressando-se a
elevarem os preços dos produtos e dos serviços para atulharem, ilicitamente, seus bolsos com dinheiro. Por conseguinte, a pressa da população e a pressa dos comerciantes transformam o fim e o início de anos num caos, principalmente nos centros urbanos onde se regista filas longas nos estabelecimentos comerciais, os crescimentos do engarrafamentos, dos assaltos, dos acidentes de viação, das dificuldades de transportes, entre outros.
Entretanto, não obstante ao ambiente caótico notável no período de celebração do dia 25 de Dezembro (igualmente conhecido em Angola como o dia da família) e dia 01 de Janeiro, também se observa, incrivelmente, uma atmosfera próspera para algumas pessoas que têm como trabalho e/ou paixão a imortalização de sentimentos, pensamentos, aspirações, acontecimentos, pessoas e de cenários através da escrita, etc, ou seja, aquelas pessoas para as quais a inspiração é a sua materia prima. Felizmente, uma destas pessoas sou eu.
Por conta de alguns problemas de fórum familiar, passei estes últimos meses sem escrever. A vontade era graúda, contudo eu não conseguia escrever, não tinha inspiração. E a medida que as festas iam aproximando-se, sobretudo a passagem de ano, incrementava a minha preocupação em dedicar palavras, frases, parágrafos que pudessem gerar ou solidificar sentimentos ternurentos, que fossem capazes de suscitarem reflexões ao estimado(a) leitor(a) que se interessa em vislumbrar a minha alma nestas linhas publicadas num dos melhores jornais privados de Angola. Mas ainda assim eu não conseguia escrever, as minhas tentativas tinham sido em debalde até que, no limiar do zénite da euforia para o novo ano (dia 31), por fim, consegui escrever o presente texto, quebrando o demorado silêncio, graças à esta magia controversa das festas que contagia a todos nós.
Para terminar, acho necessário não esquecermos que a transição de anos, além de ser digna de celebração, deve servir igualmente de reflexão. Pois nesta fase é chegado o tempo para compararmos a que distância estamos de onde partimos bem como para onde desejamos chegar. É chegado o tempo para analisarmos a eficiência das formas que adoptamos para tornar os nossos sonhos em realidade. É chegado o tempo para reavaliarmos as nossas prioridades. É chegado o tempo para sairmos do nosso respectivo mundo a fim de observámo-lo à distância de modos a termos uma noção mais ampla, mais pormenorizada e, sobretudo, mais imparcial sobre o mesmo. Pois, talvez não somos aquilo que julgamos ser.
MEU CARO LEITOR, DESEJO A SI E A SUA FAMÍLIA UM PRÓSPERO ANO NOVO! ABRAÇOS.
Por: Edson Kassanga