Ciência & Tecnologia
A era digital: o futuro do iGaming em África
África é o segundo maior continente do mundo e a casa de mil e duzentos milhões de pessoas. Desde o norte de África até à África do Sul, este continente carateriza-se pela sua diversidade em termos de cultura e história distribuída por 54 países.
A chegada da era digital trouxe consigo uma forma de unificação. Dados recentes mostram que quase 40% dos africanos já têm acesso à Internet – o que corresponde a quinhentos milhões de utilizadores. As tendências que antigamente levavam meses a atravessar o continente difundem-se agora numa questão de horas.
Uma dessas tendências é o iGaming. Um fenómeno moderno, que tornou-se num dos sectores mais lucrativos do mundo do entretenimento e que os especialistas preveem que terá o seu «boom» em África nos próximos anos.
Antes de mais, em que consiste o iGaming?
O iGaming envolve a aposta de dinheiro no resultado de um evento ou de um jogo através da internet. As duas vertentes mais conhecidas do iGaming são os casinos online e as apostas desportivas, que são definitivamente os principais motores desta indústria que gera enormes receitas.
Embora o conceito seja o mesmo dos casinos físicos ou das apostas desportivas tradicionais, o iGaming está mais acessível aos jogadores, apresenta uma maior oferta em termos de jogos e mercados de apostas, assim como vários métodos de pagamento digitais, tais como o Paypal, Skrill, entre outras e-wallets.
Um mercado em ascensão
De acordo com especialistas do ICE Africa, um evento pan-africano que discute o crescimento dos negócios, o continente está actualmente vivenciando um aumento nas apostas desportivas virtuais, com a tecnologia cada vez mais acessível à população em geral.
Como mencionado, quatro em cada dez africanos têm agora acesso à Internet, sendo o acesso à rede através de dispositivos portáteis, como tablets e smartphones, são cada vez mais comum.
O aumento destes dispositivos tem influenciado a relação dos utilizadores africanos com as tecnologias proporcionando oportunidades, aprendizagem e conectividade social, assim como um fácil acesso à informação. Como consequência do maior contacto com a tecnologia, surgiram novas formas de entretenimento, como streaming de filmes e os jogos online, onde podemos incluir o iGaming.
Esta tendência já foi observada num outro mercado emergente: América Latina. Lá, países-chave, como a Colômbia, estão colhendo os benefícios da introdução de um mercado regulamentado de jogos de azar, que registou um grande aumento de receitas. Os especialistas consideram o caso sul-americano como o ‘caso zero’ e acreditam que África seguirá o exemplo.
Uma tentação à distância de um clique
Um aspeto positivo (ou negativo, dependendo do ponto de vista) da evolução tecnológica no setor de iGaming é a forma fácil de apostar o seu dinheiro. A introdução do ‘dinheiro móvel’, permite que os jogadores tenham acesso instantâneo às suas contas bancárias, algo que a indústria dos jogos de azar online soube aproveitar em seu favor.
O simples facto de poder depositar dinheiro de forma extremamente fácil através do seu computador ou smartphone tem contribuído para o aumento de jogadores viciados no jogo em todo o mundo. Em África, o Quénia é particularmente afetado por este problema, onde 78% dos estudantes universitários apostam regularmente em jogos de azar.
Em algumas sociedades pode existir um certo glamour associado às apostas que é difícil de reproduzir em outras áreas. Ser capaz de gastar dinheiro em jogos sofisticados, como a roleta, pode ser visto como um símbolo de «status», especialmente quando feito a partir de um dispositivo móvel.
Além disso, a emoção de ganhar dinheiro e, mais concretamente, ganhar o suficiente para encontrar uma rota para sair da pobreza, é intoxicante para muitos jogadores – contribuindo ainda mais para as altas taxas de dependência.
O vício do jogo – uma espiral perigosa
A atração por ganhar dinheiro é extremamente tentadora para a maioria dos jogadores, especialmente os que estão em situação de pobreza não sendo surpreendente que isso contribua para um aumento significativo do vício.
Este problema é agravado pela falta de proteção contra websites inescrupulosos. Existe informação sobre os casinos móveis seguros disponíveis online e é importante que os jogadores os conheçam e consigam aceder a essa informação, preferencialmente no seu idioma nativo.
Um problema que têm-se acentuado com o aumento do jogo online é a falta de recursos disponíveis para ajudar a tratar este vício. Em muitos países africanos, a educação sobre os perigos do jogo é extremamente limitada e o acesso a instalações com programas de aconselhamento e centros de ajuda para jogadores problemáticos, é inexistente.
Idealmente, todos os sites de apostas deveriam ser obrigados a alertar os utilizadores sobre os perigos dos jogos de azar e, por sua vez, os utilizadores acatariam o conselho. Infelizmente isto é um conceito teórico impossível de implementar. O principal perigo nas comunidades mais pobres é o envolvimento dos jogadores numa espiral de apostas, impulsionada por ganância ou puro desespero, agravando a grave situação de pobreza em que muitos se encontram.
Mas nem tudo são más notícias. Um «boom» do iGaming em África trará consigo um forte aumento na qualidade do entretenimento disponível, transformando completamente a experiência do utilizador.
Tendo em conta o exemplo da América do Sul, os países africanos poderão procurar aproveitar as potenciais receitas de uma indústria em expansão e aumentar assim as receitas nacionais através da regulação do sistema. As empresas locais também podem beneficiar de investimentos estrangeiros, dando em troca o seu conhecimento sobre a cultura local para produzir aplicações de apostas para que estas sejam populares entre os jogadores.
Existem medidas que poderiam ser implementadas e regulamentadas para ajudar a diminuir a dependência jogo, nomeadamente recomendar às empresas de iGaming a inclusão de um guia de segurança em todos os seus jogos, apontando os elementos perigosos ou viciantes. As escolas podem introduzir aulas de conscientização sobre jogos de azar e ensinar aos alunos os perigos das apostas, à semelhança do que é feito com outros vícios.
Ao avaliar os pontos positivos e negativos de um «boom» deste tipo, é importante que sejam tomadas decisões corretas, quer pelas autoridades quer pelos utilizadores, para garantir que os seus efeitos a médio e longo prazo não são prejudiciais.