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Opinião

A epopeia de Xerxes no contexto das lideranças

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Por Professor e escritor Moisés Kambundi

Na política há um fenómeno que denominamos de acção manipulada, e compreenderão melhor com o seguinte excerto, sobre a mitologia da ascensão de Xerxes, na antiga Pérsia e Grécia, mitologia esta que deu origem a dois grandes filmes, 300, e a segunda parte 300: A Ascensão do Império, sendo este último o nosso enfoque.

Dario foi rei da Pérsia desde meados de 521 a.C. a 486 a.C., e subiu ao trono com um golpe de estado que afastou o usurpador Smerdis. Todavia, o historiador grego Heródoto explica que, a ascensão de Dário ao trono se deu por meio de uma espécie de sortilégio entre os líderes do golpe, ou seja, cavalgariam todos pela planície, em direcção ao nascente, e se o cavalo de algum deles se empinasse e relinchasse no instante em que o sol despontasse no horizonte, isto seria um sinal divino indicando quem deveria ser o imperador. Empinou-se, e relinchou, para o sol nascente, o cavalo de Dario, tornando-se então o rei.

Dario e seu filho, o sucessor, Xerxes I, sofreram, contudo, sucessivas derrotas ao tentarem dominar a Grécia. Em 492 a.C. foi enviada uma expedição, comandada pelo general Mardónio, para controlar uma rebelião nas cidades gregas da costa da Ásia Menor e, em seguida, conquistar a Grécia, mas apesar das vitórias na Ásia, o exército persa seria derrotado em território europeu, na batalha de Maratona.

Dario foi sucedido por seu filho Xerxes (Khashayar) em 485-465 a.C.. No leito da morte, Dario passa o poder ao filho, mas ao lado, estava a grande general Artemísia de Cária, filha de Ligdamis, rainha de Halicarnasso, que juntou-se à expedição de Xerxes contra a Grécia, e distinguiu-se na Batalha de Salamina.

Segundo Heródoto, Artemísia era Halicarnassense por parte de pai, e cretense por parte de mãe. Ela passou a governar a Cária após a morte de seu esposo, que era cliente dos persas. Apesar de suas origens gregas, participou da segunda invasão persa liderada por Xerxes I, inclusive oferecendo bons conselhos ao rei. Lutou com destaque na Batalha de Salamina, onde comandou cinco navios de seu reino. Heródoto a descreveu favoravelmente e ressaltou os elogios à sua bravura durante a batalha feitos pelo rei persa.

Segundo Plutarco, foi ela quem reconheceu o corpo de Ariâmenes, irmão de Xerxes e almirante da frota persa, que morreu após seu barco ter sido abalroado pelo barco de Amínias, o Deceliano e Sócles, o Peaniano. Ariâmenes tentou abordar a trirreme grega, mas foi morto pelas lanças.

Como Artemísia se agigantou perto de Xerxes? É aqui onde o nosso foco de abordagem ganha corpo, as lideranças devem ter cuidado nas escolhas dos seus conselheiros e avaliar o que ouvem, saber filtrar, aprofundar, reflectir, porque pode estar perante uma acção manipulada, um engodo, o que leva a agir, mas não por si, não por sua vonade querer tomar tal acção, mas por estar a ser fortemente influenciado, e ao invés de estar a fazer vincar o seu legado, vai a traçando planos de outrem. O bem facilmente é acarinhado e reconhecido, quando se levantam vozes e/ou há muito silêncio, não fluindo boas narrativas dos liderados, com o montante de concordância até aos erros, alguma coisa não está bem e foi o que aconteceu com Xerxes. Estava cego de ódio, e não fez o melhor porque, lhe foi lançado a semente do mal aos ouvidos num momento de fúria pela Artemísia que tinha outros interesses.

Xerxes ouviu de seu pai antes de morrer que, tem de acabar com os gregos, pois eles pensam que só podem ser derrotados por deuses, e foi assim que, Artemísia lançou a sua investida, aguardou os 7 dias de luto de Xerxes que estava paralisado pela dor, e no oitavo dia, semeou a loucura à Xerxers, dizendo que as palavras de seu pai não foram um aviso, mas sim um desafio, só os Deuses podem derrotar os gregos e tu tens de tornar num Deus rei.

Para tal, Artemísia, juntou magos, místicos sacerdotes de todos os cantos do império, e estes, envolveram o jovem com gases, poções e bebidas místicas, e o mandaram vaguear pelo deserto, entrando em delírio pelo calor e sede, caminhando até uma gruta de semi-vivos, passando pelos olhos vazios, almas perdidas e corações vazios. Nessa escuridão, ele se rendeu completamente a um poder tão maligno e perverso que ao emergir nenhuma parte humana que havia em Xerxes sobreviveu. Ele renasceu um Deus, seus olhos brilhavam, andavam com muita segurança e poder.

Até aqui, metade do plano de Artemísia estava feito, porém, precisava afastar os amigos, os conselheiros, aqueles que ele confiava, os sacerdotes, seus aliados e todos aqueles que alguma vez ele conversou ou consultou, para não ouvir outras vozes, outras sensibilidades, acabando com o equilíbrio, a sensatez nas suas actuações, com o intuito de não atrapalhar o seu grande plano. Portanto, eliminou todos, aniquilou um a um na calada da noite. Nos dias de hoje, isto acontece com intrigas, com inveja, com invenções, fofocas, mentiras e calúnias, para o líder se afastar dos sensatos, daqueles que pensam diferente, estar inclinado a um lado, logo, entra-se naquilo que denominamos de acção manipulada, porque são os planos de outros a serem implementados, e o líder assume como sua, mas o maior beneficiário é quem semeia nos seus ouvidos, assuntos que parecem ser relevantes, quando são superficiais, tal como Artemísia fez com Xerxes, para ser a grande general, dar a entender que era Xerxes a mandar mas não, no fundo era ela, eram as suas pretensões.

Nos dias de hoje, o recurso ao aniquilamento é a ultima rácio, primeiro, criam-te situações menos boas, perseguições, dissuasões, e se não conseguirem te afastar do líder, a morte pode vir, de várias formas, até envenenamento. As lideranças devem estar soberbamente atentas à estes fenómenos, senão colapsam, senão são usados feitos marionetes. Por conseguinte, deve ter ao seu lado, um conjunto de sensibilidades, de várias idades, e várias mundividências, fazer com que elas choquem, mas no sentido positivo, com resultados.

Xerxes fez guerra, perdeu várias batalhas, milhões de soldados, mas os gregos não se rendiam, criou miséria, fome ao seu povo, desunião, o seu império não desenvolveu porque estava cego em ouvir um lado, uma parte, e, mesmo eliminando o rei de Esparta, que com 300 homens criou vários estragos à Xerxes, nada fez ao seu império, porque estava infestado de pessoas e de dados que simplesmente o faziam ver guerra, mal, ódio, e foi assim que proferiu no seu primeiro discurso diante de seu povo: Por toda a Gloria, por toda a vingança, Guerra.

Artemísia feliz, porque o seu plano funcionará de forma impecável, ao detalhe, sua manipulação foi um sucesso. Lideranças, olhem bem para quem está ao seu redor, olhe se necessário com lupa, se é o seu plano que está a funcionar ou estás a ser levado por uma manipulação, fazendo vincar interesse de outrem. Lembrem-se que em política os cargos são temporários, as instituições continuarão, bem como as relações humanas.

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