Opinião
A demografia jovem em África: desafios e oportunidades
O crescimento demográfico tem sido amplamente designado como um dos factores determinantes da crise global nos países em desenvolvimento. Regiões como a Europa, a América do Norte e partes da Ásia adotaram políticas de controlo da natalidade que resultaram no abrandamento do crescimento populacional. Em contrapartida, a África manteve uma elevada taxa de natalidade, tornando-se o continente mais jovem do mundo. Este fenómeno representa tanto um desafio como uma oportunidade, especialmente num cenário em que os países desenvolvidos enfrentam o envelhecimento populacional e a escassez de força de trabalho.
O estudo conduzido pelo investigador Kelsom Chavonga, no âmbito dos Estudos Africanos, analisou os paradoxos da demografia jovem africana, tendo como foco a realidade angolana. A investigação partiu da missão de que a juventude, apesar de representar a maioria da população, continua subaproveitada pelas políticas públicas e pelas estruturas económicas do país. A metodologia aplicada foi quantitativa, com aplicação de questionários a jovens residentes na província de Benguela. A amostra incluiu 100 participantes, sendo 66% do sexo masculino e 34% do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos. A margem de erro do estudo foi de 5%, com um nível de confiança de 95%, garantindo a validade estatística dos resultados.
Os dados revelam uma realidade preocupante: a maioria dos jovens não se sentem valorizados e acreditam que as políticas governamentais não criam oportunidades concretas para a sua inclusão social e económica. O estudo avaliou diferentes domínios, como o acesso ao primeiro emprego, a valorização da formação académica, o crédito habitacional e a participação política. Em todas essas áreas, os jovens demonstraram um alto nível de insatisfação, reforçando a tese de que há um déficit estrutural no aproveitamento do capital humano jovem.
Outro ponto crítico identificado foi a percepção negativa sobre a implementação da Agenda de Desenvolvimento Sustentável em Angola. A juventude angolana vê com ceticismo os esforços do governo na redução da pobreza, na inclusão social e na promoção de oportunidades económicas. Além disso, 78% dos inquiridos manifestaram interesse em emigrar para outras regiões, nomeadamente para a Europa e América, devido à falta de perspectivas no país. Esta tendência migratória, segundo a ONU (2022), contrasta com a realidade dos países de destino, onde a população activa tem diminuído drasticamente, aumentando a procura por mão-de-obra jovem e comprometida.
Os dados obtidos corroboram as análises de autores como Mosca (2004) e Roque (2012), que defendem que o crescimento populacional africano não é causa de pobreza, mas sim um reflexo da má gestão dos recursos e das oportunidades. Mosca argumenta que, apesar do elevado número de jovens, a ausência de políticas estruturadas impede que este potencial seja convertido em crescimento económico. Da mesma forma, Roque enfatiza que o subaproveitamento do capital humano jovem perpetua ciclos de exclusão social e dependência econômica externa.
A investigação aponta que a solução para este problema passa pela implementação de políticas públicas específicas, incluindo investimentos robustos na educação, na capacitação técnica e na criação de oportunidades de emprego. A transformação estrutural do continente deve assentar na construção de sociedades mais inclusivas, onde os jovens tenham voz activa na formulação de políticas e acesso real a oportunidades que lhes permitam contribuir para o desenvolvimento das suas nações.
Este estudo sugere ainda futuras linhas de investigação, como a relação entre o empreendedorismo jovem e o crescimento económico, a eficácia das políticas de manutenção de talentos e o impacto das reformas educacionais na empregabilidade. Diante deste cenário, impõe-se uma reflexão profunda sobre a responsabilidade dos governos africanos na construção de um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável, que reconheça a juventude não apenas como um segmento populacional, mas como uma verdadeira força motriz para o futuro do continente, particularmente de Angola.
Joana Lopes
07/03/2025 em 8:40 am
🧠👏📚
Eduardo Vicente
07/03/2025 em 12:36 pm
A rápida taxa de crescimento populacional em África e, em particular em Angola, seria um motivo de alegria para o continente uma vez que, quanto mais força humana maior ” é o crescimento/desenvolvimento ” de qualquer localidade.
Infelizmente, para o contexto que se impõe, este crescimento demográfico jovem acaba por enfrentar várias sequelas que podemos aqui expressar como entrave.
Esta pressão demográfica pode exacerbar a falta de infraestruturas adequadas, como serviços de saúde, educação e oportunidades de emprego que já são limitados em muitas regiões. Daí, surgirá outro celeuma, a imigração em massa destes jovens para outras geografias em busca de melhores condições de vida o quê torna/tornará o continente mais uma vez despovoado.
Ademais, essa situação pode levar a um aumento de desigualdade, violência e outros problemas sócias. Além disso, sem um planeamento eficiente, o crescimento populacional em África em particular ” Angola/Benguela ” pode resultar em dificuldades para sustentar o desenvolvimento económico e garantir uma ótima qualidade de vida para a população crescente.