África
A ciberdemocracia no conflito pós-eleitoral em Moçambique: a ascensão de Venâncio Mondlane e o espelho para as democracias da SADC
Quando Moçambique decidiu vestir a túnica da democracia, talvez não tivesse percebido que o tecido era frágil e facilmente desfiado pelos ventos de interesses políticos. O recente conflito pós-eleitoral no país, impulsionado pelo fenómeno político Venâncio Mondlane, é mais do que um drama local – é um alerta afiado para os vizinhos da SADC, especialmente Angola, onde a democracia ainda ensaia passos vacilantes.
A ascensão de Mondlane é um exemplo fascinante – e perturbador – da ciberdemocracia em acção. Este jovem político, com um carisma digital que faz sombra a muitos líderes tradicionais, usou as redes sociais e plataformas online para mobilizar multidões, expor irregularidades eleitorais e amplificar a voz da oposição. A sua habilidade de transformar “gostos” em votos e “partilhas” em resistência política evidencia um novo campo de batalha onde as instituições tradicionais simplesmente não conseguem acompanhar.
Mas a questão não é apenas a eficácia de Mondlane. O verdadeiro escândalo reside na maneira como a ciberdemocracia escancarou as falhas de uma democracia que se diz consolidada. Moçambique, ao permitir que narrativas digitais escapassem do controlo, viu as suas fragilidades expostas num palco global. E para as democracias da região, esta é uma lição inadiável: ou se adaptam às dinâmicas digitais, ou estarão à mercê de um novo tipo de insurgência política – uma insurgência que não precisa de armas, mas apenas de smartphones.
E Angola? Bem, o cenário não é menos preocupante. No país das “eleições tranquilas”, onde a estabilidade parece muitas vezes mais conveniente do que a democracia real, a ciberdemocracia ainda é tratada como uma anomalia a ser reprimida. Contudo, o caso moçambicano mostra que é uma questão de tempo até que uma figura semelhante a Mondlane surja em Angola. Imagine um jovem político angolano a galvanizar uma nação, denunciando práticas obsoletas e mobilizando cidadãos com hashtags virais. Será que o sistema angolano, construído para controlar, estaria preparado para tal desafio?
A análise aqui apresentada é uma provocação às elites políticas que ainda acreditam que podem conter o fluxo de informações numa era onde a verdade, ou a versão dela que se deseja acreditar “pós-verdade”, está a um clique de distância. A SADC deve aprender que o futuro da democracia não está apenas nas urnas, mas no espaço digital, onde batalhas mais silenciosas – mas igualmente devastadoras – estão a ser travadas.
Se Moçambique é o laboratório, Angola e outros países da região são os próximos cobaias. E a questão permanece: vão aprender com a experiência alheia ou esperar até que a maré digital os engula também?