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22 de Janeiro: O dia da carnificina dos Bakongo

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A história de Angola, a verdadeira e muitas vezes não contada, está cheia de episódios que nos fazem arrepiar os cabelos, hora de alegria hora de horror e, certamente, os actos de sucesso e insucesso praticados por muitos, maioritariamente políticos, estão no rol destes episódios.

Destacamos, para efeitos desta nossa reflexão, os acontecimentos registados em Luanda, a 22 de Janeiro de 1993, em que, segundo relatos, foram mortas mais de 40.000 pessoas, todas de origem bakongo. Ou seja, pessoas que nasceram nas províncias do Uíge e Zaire.

Aqueles acontecimentos que ficaram conhecidos e registados como “ massacre da sexta-feira sangrenta” tiveram lugar nos dias 22, 23 e 24 de Janeiro de 1993 e visaram, como dissemos, acabar com a etnia bakongo porquanto, segundo argumentava-se, os zairenses vindos da República Democrática do Congo encontravam-se dissimulados no seio dos bakongo. 

Mas, o que acontece, de facto? Tal como ocorreu no conflito do Ruanda, entre Hutus e Tustis, em que uma das rádios daquele País contribuiu decisivamente pela negativa, no genocídio. Porém, no massacre da sexta-feira sangrenta, em Angola, a Rádio Nacional de Angola, também, desempenhou um papel, hoje, deplorável, pois, foi ela que começou com aquela que ficou conhecida como a segunda maior chacina de nacionais em nome da manutenção do poder do seu líder, depois dos massacres do vinte e sete de maio de 1977.

O deplorável contributo da rádio pública começou no dia 21 de Janeiro de 1993 quando no seu jornal das vinte horas noticiara, em destaque, a existência de um plano secreto que visava assassinar o Presidente da República, na altura, José Eduardo dos Santos, cujos autores seriam alguns militares mercenários vindos da República Democrática do Congo em apoio às FALA, forças ligadas a Jonas Savimbi. 

Em resposta à notícia, agentes de defesa e segurança do líder do MPLA partiram para a acção e entenderam que os militares enviados por Mobutu estariam escondidos nos bairros de maior concentração dos bakongo, mormente, Palanca, Mabor, Hoja ya Henda, Petrangol, e outros. 

Começaram, então, a ofensiva, matando homens, mulheres, crianças e idosos. Consta que todos aqueles cidadãos destes bairros que tivessem alguma característica que se assemelha aos congoleses democratas, mesmo não sendo do norte de Angola, foram assassinados a sangue frio e na presença dos familiares. Espancamentos, enforcamentos, violações, amputações ou mutilações, decapitações e outras formas cruéis de retirar vidas a inocentes foram utilizadas neste dia.

No final da história, à semelhança do que ocorreu no vinte e sete de maio, os verdadeiros responsáveis pelo hediondo crime continuam impunes e o Partido governante, na altura (embora seja o mesmo hoje) nada diz, nada faz, para, pelos menos, reconhecer o mal praticado e tomar medidas capazes de evitar males futuros daquela dimensão. Não se responsabiliza ninguém, não se reconhece e ainda tenta-se tudo fazer para que este dia seja esquecido por todos.

Esta apostura, que hoje nos parece do Estado, não ajuda a sarar às feridas nem mesmo moralizar a sociedade contrariando o espirito de inclusão e do perdão, seguido, por exemplo, pelo Ruanda que a semana passada inaugurou o memorial que visa homenagear os massacres de 1994.

 Seja como for, ao bakongo, pelo menos os mais atentos, continuam a viver o 22 de Janeiro como dia dedicado aos mártires bakongo por ser o momento em que se pensou eliminar aquela etnia. 

Nestes termos e considerando a importância da data há que, sem remorsos, olhar para os intervenientes, os causados e incentivadores, como é o caso da RNA, e retirar algumas conclusões essenciais. Conclusões estas viradas no aspecto de que os órgãos de comunicação social devem sempre optar por uma actuação responsável, isenta que promova à paz, concórdia e união, bem como, o poder não pode ser conquistado ou mantido passando por cima de tudo e mais alguma coisa, como é o caso da vida humana, pois, assim se evita o dia 22 DE JANEIRO ENQUANTO DIA DA CARNIFICINA DOS BAKONGO.




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